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"Saúde do RN está na UTI", diz presidente do Sindicato dos Médicos

Em entrevista ao Potiguar Notícias, o presidente do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte, Geraldo Ferreira, conversou com os repórteres Cefas Carvalho e Romeu Dantas sobre a situação da saúde no Estado e quais os projetos do sindicato. Confira:

A saúde do RN está na UTI? Por quê?
Sim, está na UTI. E por diversos fatores. Um dos maiores exemplos é o fato de não termos leitos. O Governo está tratando a saúde como se fosse há vinte anos. Nós temos praticamente a mesma rede hospitalar, não temos avançado. O que é que nós temos de novo? As UPAs e as AMEs.

Isso funciona?
Funciona para a base, mas, quando chega um paciente mais grave, não tem um respirador, não tem uma unidade para encaminhar esse paciente, então, basicamente, é um ambulatório. Fica naquela coisa de medicar e mandar para casa. Se o caso for mais grave e necessite de suporte, eu não tenho onde internar e nem para onde encaminhar. Então, as UPAs e AMEs foram as novidades que surgiram, mas não mudaram muita coisa, porque a demanda da população aumentou muito. Nós estamos numa situação em que não temos leitos suficientes, não temos hospitais suficientes, não temos vagas em UTIs...

E não temos secretário de Saúde também...
E nem diretor do Walfredo Gurgel. Nós estamos em uma situação muito grave. É preciso um trabalho de recuperação que a gente sabe que não apresentaria resultado em um ou dois anos, mas sim ao longo de seis a oito anos.

Qual a avaliação que o senhor faz da gestão Domício Arruda?
Primeiro, Domício conhece a administração, dirigiu inclusive a Unimed, que é muito complicada do ponto de vista administrativo. Tem um pé no sistema privado, mas sempre foi funcionário público, então ele tinha as habilidades necessárias para ser um bom gestor. Não conseguiu. Conversamos muitas vezes, e eu sempre o notei muito bem intencionado, claro que nós tínhamos algumas divergências, por exemplo: ele me perguntava se não era melhor fechar alguns hospitais regionais que não funcionam e deixar somente os que funcionam. Essa política, nós achamos que não resolve. É preciso equipar cada um, porque essa rede que foi construída mais ou menos na época de Geraldo Melo, é necessária para o e Estado. Nós acompanhamos a política de fechar serviços e, mesmo que seja com a melhor das intenções de fazer com que uma unidade funcione bem, transferindo os profissionais de um local para completar as escalas de outro, nós sabemos que não atende aos interesses da população. Domício foi um secretário que gerou muitas expectativas. O que é que pode ter acontecido? Uma sangria brutal do ponto de vista financeiro. Inclusive, circula a informação de que, nos últimos momentos da sua gestão, a secretaria estava sem recurso algum, porque, o que tinha, havia sido usado para o Hospital de Mossoró e aquela terceirização que houve. Então, ele ficou sangrado. Não tinha como pagar fornecedores, as cooperativas, nem abastecer os hospitais.

O senhor acredita que houve uma centralização dos recursos em Mossoró?
Aparentemente, nesta unidade, porque a queixa do Tancredo Neves é a mesma, que está desabastecido, que as escalas estão incompletas, que os pacientes estão nos corredores e que os equipamentos estão quebrados. Hoje mesmo, eu recebi uma informação de que a pediatria de lá está caótica. No relatório que enviaram, há um pedido para que o conselho vá lá interditá-la. Lá, não tem desfibrilador, não tem respirador... é um faz de conta no principal hospital de Mossoró. Isso depõe muito contra a governadora, e ela não pode esquecer que foi eleita com a bandeira de priorizar o sistema. Isso é muito decepcionante para nós que acreditamos, afinal, ela teve uma votação maciça na saúde, praticamente, uma unanimidade. Hoje, a população está refletindo isso nas pesquisas onde ela já chega a 67% de reprovação. Se continuar dessa forma, chegará à mesma situação da Prefeitura de Natal. A falta de diálogo, confronto aberto com os sindicatos, a política de cozinhar os problemas contribuem para isso. No interior, isso não acontece, porque os movimentos sociais são sufocados pelos pequenos favores, mas nas grandes cidades, sim.

Com a saída de Domício, assumiu a adjunta Dorinha Burlamaqui. Existem nomes que podem vir a ocupar esse cargo? Qual a expectativa do sindicato?
Dorinha é o braço direito de Rosalba na saúde, mas me parece que ela está assombrada, pelo menos foi o que nos pareceu em reunião, ela disse “eu já pedi a Rosalba urgência para nomear um secretário, eu prefiro ser adjunta”. Isso porque adjunta lida mais com aquelas questões internas, burocracia; já o secretário é uma figura política, de negociação. Ela, definitivamente, não conhece as pessoas dos movimentos sociais que fazem a parte política e reivindicatória das categorias e da sociedade com um todo.
Então, ela me pareceu muito assustada com esse componente novo. Acho que Dorinha não aceitaria continuar, carece de preparo, ela tem uma visão muito setorizada ainda.

E, se o senhor for convidado, aceitaria assumir a secretaria de Saúde?
Não, efetivamente. Não é que não seja uma honra para qualquer pessoa, mas para você ser convidado precisa preencher alguns critérios. Primeiro, estar disponível para isso; segundo, se achar habilitado. Se você não preencher os critérios, acaba sendo uma aventura. Efetivamente, não é minha hora, mas há muitos nomes bons, como por exemplo: Nelson Solano, que vem sendo cogitado; Pedro Cavalcanti, que já foi secretário de saúde; e Esaú Gerino, diretor do Hospital Santa Catarina. O que é que une os três nomes? Nenhum aceitaria sem o compromisso do governo de mudar essa situação da saúde. Quando nós conversamos com qualquer um deles, é dito isso. Que compromissos o governo tem de assumir? Abastecer os hospitais, ampliar o número de leitos, ter vagas de UTI, remédios para o povo, equipamentos para modernizar a estrutura... porque, com isso, um secretário se consagra. Agora, se entregar a secretaria do jeito que está sem compromisso do governo de mudar a situação, o secretário estará botando uma corda no pescoço e vai ser enforcado por ela.

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