Ana Flor – G1
O resultado do segundo turno de São Paulo marcou mais uma vitória de um
estreante em eleições escolhido a dedo por Luiz Inácio Lula da Silva e
reafirmou a liderança do ex-presidente dentro do PT e no cenário político
nacional.
Ao derrotar José Serra, Fernando Haddad repetiu o feito de Dilma Rousseff,
que há dois anos venceu o mesmo candidato na disputa que definiu o sucessor de
Lula na Presidência.
Desta vez, em que pese os vários fatores locais para a eleição do petista, a
proeza pode ser considerada ainda maior.
Se no caso de Dilma, Lula carregou como presidente a então ministra por
cerca de dois anos a inúmeros eventos e inaugurações de obras e a transformou
na "mãe do PAC"(
Programa de Aceleração do Crescimento), para torná-la
conhecida dos eleitores, desta vez o ex-ministro da Educação partiu
praticamente do zero no conhecimento do eleitorado paulistano.
E a situação foi mais delicada ainda por conta da recuperação de Lula do
tratamento contra um câncer, que fez com que entrasse mais tarde do que
gostaria na campanha de Haddad.
A vitória não só amplia o poder ilimitado de Lula dentro do PT, mas também
chancela sua influência entre aliados, que chegaram a duvidar da continuidade
da força política do ex-presidente depois da descoberta, há um ano, de um
câncer que o afastou temporariamente das articulações políticas.
Ao escolher Haddad, que iniciou a campanha com menos de 5 por cento das intenções
de voto, Lula enfrentou gigantes petistas em São Paulo, como a ex-prefeita
Marta Suplicy e o ministro Aloizio Mercadante. Precisou ainda costurar apoios
entre aliados, que desejavam lançar candidaturas próprias.
Com a
saúde não totalmente recuperada, por causa dos efeitos
colaterais do tratamento contra o câncer, Lula precisou abandonar a ideia de
percorrer o país em campanha de aliados para focar em São Paulo. Além da
capital, focou na região metropolitana, visitando poucas cidades em outros
Estados.
DERROTAS
E o esforço concentrado em São Paulo cobrou o seu preço. Porque se a vitória
na capital paulista pode ser classificada como espetacular, Lula também colheu
derrotas importantes nesta campanha. As mais sentidas por ele foram Recife,
Fortaleza e Salvador.
Na capital pernambucana, Estado onde o ex-presidente nasceu, o PT foi arrasado.
O senador e ex-ministro Humberto Cosa ficou em terceiro lugar na disputa, atrás
do candidato do governador e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, e do
PSDB.
Em Salvador, Lula se empenhou para impedir a vitória do herdeiro do
carlismo, Antonio Carlos Magalhães Neto, e em Fortaleza entrou numa briga dura
contra os aliados do PSB, Cid Gomes (governador) e Ciro Gomes (seu
ex-ministro).
Mas como disse um ministro do governo à Reuters, o preço pago valeu a pena.
"Não importa onde mais o PT ganha ou perde. Para Lula, o resultado dessas
eleições sempre dependeu de São Paulo", disse à Reuters o ministro.
E em Campinas (SP) quase que a mágica do "dedaço" deu certo
também. Lula ajudou a levar mais um estreante em eleições para o segundo turno,
Márcio Pochmann, ex-presidente do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Mas o fôlego não foi
suficiente para vencer neste domingo.
O apoio do ex-presidente ajudou ainda na campanha em Osasco, onde Jorge
Lapas (PT) se tornou candidato com a saída da corrida eleitoral de João Paulo
Cunha --condenado pelo Supremo Tribunal Federal por corrupção no julgamento do
chamado mensalão.
Para aliados, o feito de Lula nestas eleições foi ainda maior por se tratar
de um momento em que o partido passa por uma tentativa de "desmonte
moral", com o julgamento no STF.
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