Contador

Um governo de gambiarra

Paulo Augusto

Com respeito e cortesia aos nomes que foram agraciados para compor o novo secretariado da administração municipal, temos a dizer que alguns foram absolutamente surpreendentes, quando anunciados, no sentido da frustração das expectativas. Com efeito, como dizemos, a sensação foi de fogos de artifício que não detonam, nem acendem, ou que estouram imprevistamente — deu chabu a guarda pretoriana! Acreditamos que, muito certamente, parte da população, em especial aquela recheada dos contribuintes e dos eleitores da Borboleta, deve ter ficado atabalhoada com a coragem e a audácia da nova prefeita, que teve o desassombro de anunciá-los e de, posteriormente, colocá-los, efetivamente, em cada um dos seus galhos, enfim, nos seus encargos e em suas alçadas.

Sinceramente, para uma administradora de empresa privada bem-sucedida - a TV Ponta Negra -, habitué das convulsões, abalos, jogos e praxes do mundo corporativo, que dribla e sobrepuja com galhardia as vexações da crise econômica internacional, de certa forma desapontou aquela parte da população, azabumbada com os seus primeiros passos.

Na verdade, foi muito alta a expectativa gerada, diante de quem esteve a recolher, para aplicações concretas, opiniões, lições e recomendações, de cunho filosófico e administrativo, moral e espiritual, de expoentes da política nacional como Aécio Neves (PSDB), governador de Minas Gerais, e José Serra (PSDB), governador do Estado de São Paulo. Daí aquela fração da população sentir-se atoleimada, aparvalhada, ao enfronhar-se de alguns nomes, saídos de público da boca da Borboleta, para ocupar competências e atribuições cujos compromissos e abrangências são sobejamente conhecidas.

Sem querer entrar no mérito de outras secretarias, nós e aquela parcela da população estupidificada, externamos apenas nosso desapontamento diante do nome escolhido para a pasta da cultura - que aqui, na província, se materializa na Fundação Cultural Capitania das Artes. A indicação do nome para o setor - o artista plástico e jornalista César Revoredo - causa incômodo muito especialmente em termos comparativos, diante do caudal informacional, e da densidade cultural e profissional do ex-presidente da Capitania, que repassou o posto, escritor e poeta Dácio Galvão. Devemos fazer conhecer nosso estado de espírito, e daquela porção da população embasbacada, ao sabermos da escolha, livre e desimpedida, da Borboleta, que nos soou como uma desimportância e uma desconsideração para com o setor.

Isto porque, para nós e para aquele quinhão pasmado da população, que reúne contribuintes e eleitores, enfim, cidadãos, cultura diverge - e muito - de entretenimento, de divertimento e distração. A Capitania das Artes dispõe - e sempre disporá - de um orçamento invejável, recursos sonantes e prontos para serem capturados, facilidades burocráticas, livre trânsito para as patacas e os jabaculês, daí porque ser propícia para a implantação e consolidação de políticas culturais, oportunizadas no decorrer de quatro anos, alcançando nos seus propósitos uma clientela muito mais precisada, vasta e com melhor retorno do que os valores desembolsados em efemérides pontuais, passageiras e perdulárias, e sem quaisquer compromissos, tanto da parte de quem oferta quanto do seu consumidor. Quando se sabe que a única política pública efetivamente implantada nas últimas décadas, em termos de investimentos pesados estatais, tem sido a do extermínio da juventude, em especial da camada juvenil da periferia, esperava-se, de uma Borboleta, que trouxesse o desabrochar de novos talentos, que fizesse da Capitania um casulo novo para jovens aspirações culturais, enfim, que transformasse no Trampolim da Vitória dos mais necessitados, um instrumento público de promoção da verdadeira cultura. Nunca a ameaça de vir a transformar-se numa caixa de registros mercantis, a negociar valores vis, ou para ordenar e controlar o movimento e os passos de sonhadores e artificiosos, contá-los e enumerá-los e, por fim, utilizá-los como numa roleta russa nas próximas eleições.

Sabemos, e também sabe aquela parte fragmentada da população parva, varada e zonza, que política pública, de alguma forma, faz com que o cidadão chegue a criar autonomia para procurar e escolher seus próprios programas. Nada de forma impositiva.

Trata-se da ação do poder público que se baseia em operações, princípios, procedimentos administrativos e recursos orçamentários voltados para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos através de atividades culturais, artísticas, sociais e, tchan, tchan, tchan... recreativas. Mas diga-se que a estratégia para este caso é a promoção de atividades culturais onde o público seja participante ativo. O povo, essa coisa que vira "público-alvo", no dizer dos gestores da cultura, entra, ele próprio dinamizando a cultura local a partir de suas referências, mas isso sem precisar desconsiderar a arte erudita. Todos ficam sabendo que o mais importante deixa de ser o acesso aos bens culturais, coisa que a gente se acostumou a ver por aqui, às vezes até de forma paga, mesmo quando se beneficia das leis culturais que patrocinaram, e passa a ser a participação ativa da população na criação e nos processos culturais. Dá pra encarar?

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