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Padre Murilo: "A mentira determinou a realização do segundo turno para presidente destas eleições"


Da Redação do Potiguar Notícias

Conhecido por suas posições firmes, o padre Antônio Murilo de Paiva, da paróquia de Nossa Senhora de Fátima, concedeu entrevista ao PN, em que falou sobre política, campanha e a candidatura da presidenciável Dilma Rousseff.

Padre Murilo, qual a missão da Igreja Católica no Brasil?
A missão da Igreja é evangelizar! Anunciar, servir, dialogar e testemunhar. São dimensões importantes da evangelização. É neste sentido que os programas de Educação Política são aplicados dentro da Igreja. A Arquidiocese de Natal tem uma tradição de educação política desde Dom Nivaldo Monte, que lançou oficialmente em 1972 – em plena ditadura militar, para contribuir no despertar da consciência política da nossa gente. Numa palavra podemos dizer que contribuir no despertar e na formação da consciência política faz parte da missão da Igreja a partir da Doutrina Social da Igreja. Os cristãos têm o dever de participar e trabalhar para que o mundo se aproxime do Projeto de Jesus Cristo. Diria Paulo Freire: “de consciência adormecida não haverá processo de transformação social e político”. Os opressores não querem que os pobres tomem consciência da importância de atuar e ser militante dentro do mundo da política, inclusive partidariamente. Oficialmente, a Igreja não tem partido político, mas não significa que não seja política. A grande questão do momento é a retomada das bases da educação política dos anos 80: o debate dos projetos políticos para o Brasil.

Qual a posição da CNBB sobre o cenário político brasileiro neste processo eleitoral?
Basta ler a nota da CNBB sobre a hora presente e aqueles que foram na onda mentira verão onde está a verdade. Para não haver problema de interpretação basta ler a nota da Comissão Brasileira Justiça e Paz da CNBB, elaborada no último dia 6 de outubro.

Qual a compreensão da Igreja Católica sobre o aborto?
Somos contrários ao aborto voluntário. Somos a favor da vida, do nascer ao pôr-do-sol, da existência de cada pessoa. Ou seja, devemos defender e promover a vida desde o ventre até a hora em que Deus nos chamar de volta à sua casa. Ninguém tem o direito de matar ninguém. A não ser nos casos de legítima defesa. Fico espantado como algumas autoridades que são intransigentes na luta contra o aborto são a favor da pena de morte. Não dá pra entender essas posições. Mas a questão que agora está em voga é mais ampla e tem o claro objetivo de tirar proveito eleitoral. Se a gente não tem cuidado com as palavras elas podem nos trair. Quando se diz fulano é a favor do aborto, é preciso especificar qual o aborto. Em 1998, Serra assinou o documento contendo as normas técnicas – com detalhes como se faz o aborto nos casos de violências sexual contra as mulheres. Na época, a CNBB e muitos padres criticaram essa posição, porque normatizou esse tipo de aborto no Brasil. Agora ele pula fora. Por quê? Esse documento está à disposição de todos que desejarem no endereço eletrônico: http://www.cfemea.org.br/pdf/normatecnicams.pdf. Dilma foi ministra do governo Lula durante mais de seis anos e nunca fez nenhum documento desses. Como diria o padre Leomar, “o único candidato a presidente nestas eleições que já assinou medidas para fazer abortos foi José Serra (PSDB), quando foi ministro da Saúde, em 1998”.

Padre, existem boatos que tratam de falar a respeito da postura da candidata Dilma Rousseff a respeito do aborto e da sua crença religiosa. Qual a sua compreensão acerca disso?
A mentira determinou a realização do segundo turno para presidente destas eleições. Pela escolha do projeto político popular que o presidente Lula colocou em voga no Brasil, não haveria segundo turno. Então, a turma do PSDB lançou pela internet uma grandessíssima campanha difamatória contra a Dilma Rousseff. Foram mais de um bilhão de e-mails lançados mundo afora. As principais calúnias foram: 1º) Que Dilma Rousseff era a favor do aborto; 2º) Que Dilma teria dito que nem Jesus impedia sua vitória no primeiro turno; 3º) Que Dilma era a favor do casamento gay. Uma profunda baixaria. Por mais que Dilma Rousseff se defendesse e reafirmasse sua posição firme em defender a vida, a liberdade religiosa e o respeito às diferentes orientações sexuais, não conseguiu se livrar do laço montado para levar as eleições para o segundo turno. Mas a calúnia é assim: uma vez feita, nunca a pessoa caluniada consegue se livrar dela. Mas, pasmem os senhores, estamos sabendo que Serra está com uma outra difamação contra Dilma Rousseff para colocar no seu último programa de Rádio e TV. Um absurdo. É hora de dar um basta nas baixarias nos palanques eleitorais. O povo brasileiro não merece isso! Queremos debate dos programas de governo dos dois candidatos.
Agora vem à tona que os casos de aborto que aconteceram oficialmente no Brasil foram regulamentados pelo seu opositor. Ou seja, a coisa é mais séria do que pensamos. Quando eu estava em Macau, se dizia de um prefeito que por lá passou: “Ele manda matar e no outro dia vai chorar no enterro”. Pelo que estamos vendo, ele (Serra) está indo por esse caminho a fim de ganhar votos. Ele Mente descabidamente. Como ele joga pra longe o debate dos dois projetos políticos! Esses projetos políticos já foram colocados em prática no Brasil em espaços de tempo iguais de oito anos. Serra não quer de jeito nenhum que a população compare a atuação de FHC com Lula e muito menos a sua com a de Dilma Rousseff. Tem medo que se péla! Ter consciência política é ter a coragem de debater os dois projetos colocados em prática nos dois governos.

Como o senhor tem percebido a economia brasileira? Existem avanços? E o que precisamos melhorar?
O governo Lula fez avançar o desenvolvimento econômico e social do país. O País melhorou. Está do jeito que a gente quer? Ainda não. Mas essa marcha não pode parar. São 500 anos de opressão no Brasil. É impossível vencer todos os mecanismos de opressão em 8 anos. Quando Lula começou o governo recebeu o país com o salário mínimo de mais ou menos 50 dólares e está entregando com mais ou menos 300 dólares; o crescimento no número de empregos na casa de 14 milhões; a recuperação dos portos em quase todos país. Aqui, no Rio Grande do Norte, acontecem obras no Porto de Natal e no Porto Ilha de Areia Branca. Esse último estava fadado ao abandono. Todos os empresários, sobretudo os do sal, reclamavam há tempos sua recuperação e FHC não fez, mas Lula fez. Dilma Rousseff vai continuar essa obra. Precisa intensificar a economia solidária, como os programas de Agricultura Familiar, Compra Direta; intensificar o programa de Reforma Agrária; fazer uma auditoria na Dívida Externa; intensificar os grandes programas de educação – inclusive, melhorando os salários dos profissionais da educação, equiparando os do Ensino Fundamental aos dos IFRNs – diga-se de passagem, essa será uma das grandes bandeiras da deputada federal Fátima Bezerra; criar um programa específico para a formação dos profissionais da saúde, aumentando o número de vagas nas universidades para cursos de medicina, enfermagem, etc. Por exemplo, a UFRN e a UERN com cursos de Medicina, Enfermagem, bioquímicos, etc., em todas as cidades pólos do Estado. Penso que só se enfrentará pra valer o problema do atendimento à saúde se houver o programa específico para tal.

Mesmo compreendendo o papel da Igreja Católica, os padres votam. E em quem o senhor votará? O seu voto tem um teor social e político ou religioso?
Pelo que justifiquei até agora todos já sabem que voto em Dilma Rousseff, pelo teor social e político. Sei que Dilma Rousseff e Serra vêm de famílias religiosas e professam a fé cristã. Não sou a favor de guerra santa. Esse tempo de guerra santa já passou. Quem por aqui defender e promover a vida, com certeza terá lugar na vida eterna. O Reino de Deus não se confunde com um governo ou um sistema político. O Reino é perfeito e completo. Um governo ou um sistema político pode ser orientado, inspirado nesta direção, mas jamais chegará a realizar a plenitude do Reino de Deus.

Na sua compreensão, quem está preparado para governar o Brasil?
Dilma Rousseff. O outro candidato puxa a campanha para a baixaria. Quem age assim não está preparado para governar o Brasil.

Padre, existe preconceito contra a mulher brasileira e esse fato prejudicará a candidatura de Dilma Roussef?
Existe preconceito, sim, contra a mulher, mas isso aos poucos está sendo vencido. A prova é que 80% dos homens votam em Dilma Rousseff. Agora, a luta é para que as mulheres se vistam de roupa vermelha e caiam na campanha para eleger a primeira mulher presidente do Brasil. As mulheres precisam acreditar nelas mesmas. Nós, homens, já acreditamos no seu potencial e na sua capacidade de administrar. Homens e mulheres lutando e trabalhando em prol da justiça e da vida, venceremos a violência e chegaremos à paz.

Padre Murilo, qual grupo religioso o senhor faz parte dentro da Igreja Católica? É verdade que existem duas vertentes dentro do catolicismo? Um grupo mais reacionário do que outro?
Respondo com essa afirmação de um grupo de religiosos de todo Brasil a favor de Dilma: “Consideramos que o direito à vida seja a mais profunda e bela das manifestações das pessoas que acreditam em Deus, pois somos à sua imagem e semelhança. Portanto, defender a vida é oferecer condições de saúde, educação, moradia, terra, trabalho, lazer, cultura e dignidade para todas as pessoas, particularmente as que mais precisam. Por isso, um governo justo oferece sua opção preferencial às pessoas empobrecidas, injustiçadas, perseguidas e caluniadas, conforme a proclamação de Jesus na montanha (Cf. Mt 5, 1- 12). Esse é meu grupo dentro da Igreja.

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