Em seu novo espetáculo “A Sagração da Primavera”, que será apresentado nesta segunda-feira, dia 30 de julho no Teatro Alberto Maranhão o Ballet de Londrina relê obra fundadora da modernidade e consolida uma linguagem coreográfica própria.
A Sagração da Primavera dá continuidade à pesquisa do coreógrafo Leonardo Ramos sobre a exploração da horizontalidade e de novos eixos de apoio e equilíbrio na locomoção dos bailarinos – característica que já ganhou status de ‘linguagem’ dentro de sua obra e da companhia. “Eu descobri há alguns anos que quando coloco o elenco em pé eu sou convencional. No solo eu consegui expor algo que é novidade até para mim”, afirma Ramos. Outro atributo que se consolida na nova montagem é a utilização de uma obra inspiradora para uma criação coreográfica original - procedimento de sucesso desde Decalque (2007), concebido a partir do roteiro de Romeu e Julieta.
Desta vez, o empreendimento é ainda mais ambicioso. A companhia londrinense propõe uma leitura contemporânea para A Sagração da Primavera, considerada a primeira obra de vanguarda que definitivamente escancarou as portas da Europa para a modernidade. Com música de Igor Stravinsky e coreografia de Vaslav Nijinsky, o balé estreou em Paris na noite de 29 de maio de 1913 para nunca mais ser esquecido. As ensurdecedoras vaias no Théâtre des Champs-Élysées ecoaram como o grito agonizante de uma burguesia conservadora frente àquela novidade estética.
O enredo é relativamente simples: baseada em uma antiga lenda russa, a peça narra a imolação de uma virgem, oferendada aos deuses da primavera em troca da fertilidade da terra. A jovem eleita dança freneticamente até a morte. As inovações, entretanto, residiam na forma de apresentar o ritual pagão ao público.
A música composta por Stravinsky subordinava melodia e harmonia ao ritmo. Seu andamento era assimétrico e complexo, com acentos perturbantes. O discurso sonoro, que se aproxima do ruído e tem claramente uma intencionalidade dramática, dava especial relevo para a percussão e para as repetições. Na dança, Nijinsky igualmente inovava ao introduzir tremores, espasmos e contorções na seqüência dos dançarinos, que também golpeavam com os pés um palco acostumado à leveza das sapatilhas. Tudo parecia espelhar o espírito da barbárie e do primitivismo.
Na montagem do Ballet de Londrina, Leonardo Ramos optou por uma versão não orquestrada da partitura de Stravinsky. Ela é executada por quatro pianos, que fazem o papel de todos os outros instrumentos. O cataclismo sonoro que brota do timbre pianístico, porém, logo encontra complementação na percussão dos corpos em choque com o tablado ou no sopro ofegante da respiração dos bailarinos. Leonardo Ramos amplifica o significado da feminilidade, dedicando sua versão da Sagração às mulheres, como “símbolo de todas as minorias”.
Quase cem anos após a montagem original, o Ballet de Londrina mostra a atualidade do tema da Sagração, bem como o potencial de ressignificá-la. A tarefa ganha ares de desafio: ao longo do século XX, os mais célebres coreógrafos encenaram versões bem particulares da obra de Stravinsky, dentre eles o francês Maurice Béjart (1959), a americana Martha Graham (1984) e a alemã Pina Bausch (1975), dona da tradução mais conhecida.
Serviço:
Ballet de Londrina
Espetáculo ‘’ A Sagração da Primavera ‘’
Data: Segunda-feira, dia 30 de julho
Horário: 20h
Local: Teatro Alberto Maranhão
Ingressos: R$ 10 inteira e R$ 5,00 meia
Informações: 9409-4440 / 3222-3669
Foto: Divulgação
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