Contador

Dário Barbosa: "Sabemos que quando formos assumir o mandado entraremos no ´mundo real´ da política"

Candidato a vice-prefeito de Natal na chapa de Robério Paulino, Dário Barbosa é líder do PSTU em Natal e no Estado há anos e, finalmente, viu a eleição  - pela 1ª vez em Natal – de um membro do partido para a Câmara: a professora Amanda Gurgel, que com quase 33 mil votos se tornou a recordista de votação para o Legislativo natalense. Em entrevista aos jornalistas Cefas Carvalho e Rômulo Estânrley, para o jornal Potiguar Noticias, Dário falou sobre Amanda, projetos do PSTU e política de modo geral. Confira:

Você recentemente esteve na Argentina. Qual foi o propósito da viagem?
Nós fomos fazer uma participação em um grande ato da Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT), que tenta construir um partido mundial. E nós fomos para ele porque foi um marco de 30 anos de fundação da entidade, que ao longo desse tempo se fortaleceu em mais de 25 países.

O que essa sua participação acrescenta na luta dos trabalhadores aqui, no Estado?
Primeiro, acrescenta porque esse encontro fortalece a LIT como uma organização internacional que busca unificar as lutas no mundo inteiro. Fortalecer as lutas dos trabalhadores que são explorados em toda parte do planeta onde há capitalismo já é uma grande contribuição. Falando localmente, as lutas que os trabalhadores desenvolvem contra os patrões no resto do mundo são as mesmas lutas que os trabalhadores fazem aqui, no RN. Observamos que não há diferença na exploração. Então, essa experiência significa uma troca de experiência, mas mostra acima de tudo que há uma necessidade dos trabalhadores do mundo estarem unidos e reconhecer que somos todos trabalhadores em qualquer parte.

Como se deu a articulação entre o PSTU e o PSOL em Natal, já que no contexto nacional isso não acontece?
Em alguns momentos nós buscamos fazer aliança com os partidos da esquerda. Com o caos em que a prefeitura se encontra, nós vimos que era importante uma aliança, como já aconteceu outras vezes. A cidade precisa de um programa diferente e foi por isso que convidamos o Psol, fizemos uma discussão e mostramos como era importante lançarmos um candidato que poderia ser tanto do PSTU quanto do PSOL. E fizemos um acordo de força para lançar o professor Robério Paulino como candidato a prefeito e eu como vice. Discutimos quais seriam as melhores propostas para a saúde, educação, transporte e para o desenvolvimento da cidade, meio ambiente e várias outras questões. Fizemos também uma coligação para ver se elegíamos algum vereador. A partir daí apresentamos o nome da professora Amanda, o PSOL apresentou outros nomes e foi acertada essa frente ampla de esquerda, que teve uma forte votação para prefeito e elegemos Amanda Gurgel, que por tabela elegeu Sandro Pimentel e Marcos. Isso provou que estávamos certos em fazer essa aliança para apresentar uma alternativa tanto para a prefeitura como para a Câmara Municipal. Posso dizer que o que houve de bom para a cidade foi o professor Robério discutindo o programa junto comigo e a votação de Amanda, Sandro e Marcos.

Vocês tinham noção que poderiam eleger três vereadores ou foi uma surpresa completa para vocês?
Com franqueza, foi uma surpresa para todos nós. Achávamos que havia a possibilidade de, com muito trabalho, eleger Amanda Gurgel devido todo ocorrido e a repercussão nacional. Achamos que seria possível inflamar a discursão sobre a educação e reviver na cabeça das pessoas aquilo que elas viram e ouviram de Amanda naquela defesa da educação na Assembléia Legislativa. Achávamos que com a aliança poderíamos eleger Amanda e talvez, com muita luta, eleger mais um vereador. Eleger três foi uma surpresa muito grande para todos nós e surpresa maior foi ver o recorde de votação.

O PSTU conseguiu, pela primeira vez,uma cadeira na Câmara. Qual a avaliação que vocês fazem?
Fazemos a seguinte avaliação: durante a campanha, nossa frente de esquerda não foi atacada em nenhum momento. Foi uma campanha tranquila. Tínhamos uma figura de peso como Amanda Gurgel, que estava sendo extremamente coerente em seu discurso e a imprensa e os outros partidos não tinham argumento para tentar descaracterizar uma candidatura certa para a cidade.

Talvez os outros partidos não tenham tido noção da quantidade de votos que Amanda teria...
É provável que não tenham esperado que dois partidos “nanicos” tivessem tanta votação. Se nós não esperávamos, imagine eles. Acabaram não se preocupando com isso e muitos não foram reeleitos.

O partido está preparado para assumir um mandato na Câmara?
Nós sabemos que quando formos assumir o mandado entraremos no “mundo real” da política, mas nós conhecemos bem o funcionamento da Câmara Municipal. Lá é uma estrutura completamente diferente das nossas condições de trabalho atualmente. É um lugar feito para ganhar você; é feito para que as pessoas honestas entrem e convivam com o luxo, os gabinetes refrigerados e acabe caindo na desonestidade. Para quem normalmente trabalha em escolas caindo aos pedaços encontraram um ambiente fora do comum. Estamos trabalhando para que eles se adaptem. Sabemos que não é fácil ser parlamentar de um partido de esquerda como o nosso, dar de frente com um ambiente onde a maioria é de direita e conservador. Sabemos que é um terreno difícil, mas é concreto e na realidade pragmático. O debate político será difícil, mas não impossível. Estamos mostrando pra Amanda, que é muito inteligente e aprende rápido, experiências de companheiros nossos que tiveram êxito como parlamentares e também mostrando para ela os maus exemplos de candidaturas que não servem para o nosso trabalhador.

Muita gente está depositando em Amanda uma esperança de que ela possa resolver problemas que inclusive não são da alçada de um vereador. Como o PSTU está lidando com isso?
Essa é a melhor parte da política. Expectativa é a confiança que a população deposita no político. É muito importante ser merecedor de confiança de milhares de pessoas na cidade em que você mora, mas temos que ter muito cuidado com a contradição disso, que é a decepção. Estamos fazendo de tudo para corresponder a esse mandato porque o que ela fizer vai ter uma relação direta com o partido. Precisamos apenas esclarecer que vereador não tem o mesmo poder de um prefeito. O parlamentar não consegue executar. Mas Amanda vai ser uma lutadora constante e firme dos interesses do trabalhador.

Como se deu o financiamento da campanha de Amanda, uma vez que o PSTU não aceita financiamento de empresários?
Nosso partido não aceita financiamento de empresas privadas, apesar de ser uma prática legal, mas nós a consideramos imoral porque o político tem que ter compromisso com o a população e não com as grandes empresas com interesses particulares. As nossas campanhas são financiadas com doações dos nossos militantes, convidados a nos ajudar não só segurando bandeira ou entregando panfleto, mas também financeiramente. Foi uma experiência muito rica, porque já tínhamos colaboradores que tiram do seu pequeno salário uma quantia para nos ajudar, mas era pouco.
Nessa campanha nós tivemos uma adesão popular muito forte. Em uma de nossas caminhadas havia em torno de 90 pessoas de fora do partido, havia mais gente de fora do que militantes. Nenhum dos grandes partidos conseguiram fazer isso. As pessoas saiam de suas casas, colocavam gasolina do próprio bolso porque nos recusamos a fazer convênio com postos e fazer nota de gasolina. As pessoas vinham com suas bandeiras feitas com dinheiro do próprio bolso e queriam contribuir com o partido. É com essas pessoas que nós temos compromisso, com a população.

Foto: Riane Brito



Nenhum comentário:

Postar um comentário