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Hugo Manso: "Se Mineiro fosse para o segundo turno, poderia vencer a eleição"

Professor do IFRN, ex-vereador em Natal e candidato ao Senado em 2010, Hugo Manso (PT) foi eleito vereador na eleição de ou­tubro passado e retornará ao Legislativo natalernse a partir de janeiro de 2013. No Alpendre do PN, conversou com os jornalistas José Pinto Júnior e Cefas Carvalho sobre as eleições, partido, objetivo do mandato e política de modo geral. Confira:

O PT votou em Carlos Eduardo no segundo turno e afirmou que não pretendia participar do governo, mas alguns petistas estão inclinados a aceitar cargos. Qual sua posição quanto a isso?
Quando nós votamos pelo apoio a Carlos tomamos a decisão de forma humana. Havia entre nós o sentimento muito forte de abstenção, pois fizemos uma bela campanha no primeiro turno e surpreendemos parte da cidade com os 22% de votos obtidos por Mineiro, que quase foi para o segundo turno, mas percebemos que seria muito ruim para um partido ficar omisso durante as três semanas que a cidade estaria vivendo um forte debate. Poderia ser mais cômodo, mas nós avaliamos que um partido deva ter uma posição. A partir daí conversamos tanto com Hermano quanto com Carlos e inclinamos por um apoio a carlos dado a presença muito forte na campanha de Hermano de figu­ras do governo Micarla e Rosalba, dois governos com os quais nós temos enfrentamento.

O PT chegou a dialogar com Hermano...
Chegamos até a perguntar a Hermano se era possí­vel um rompimento com o DEM e ele respondeu que tinha essa vontade, mas que é uma decisão para o final de 2013. Acontece que precisávamos incidir sobre aquele momento. Se ele rompesse, nós poderíamos ter uma conversa mais pró­xima com Hermano, mas aconteceu o contrário. Eles foram no caminho de uma campanha conservadora. Além do mais, nós já tí­nhamos uma proximidade maior com Carlos Eduardo, até porque participamos da administração anterior. Nossa idéia era unir o partido, mas havia muita gente com o sentimento de neutralidade. Por isso, resolvemos apoiar Carlos, mas sem nos envolvermos em seu governo. Ajudamos Carlos a se eleger e o fato é que, após a vitória de Carlos, se materializa o que eu considero um fato novo: ele ter procurado o PT formalmente para conversar e o presidente do partido ter dito que há uma resolução de não participação deste governo. Choque: foi aí onde houve o equívoco político do PT, que pode ser corrigido no futuro. Deveríamos ter sentado à mesa com Carlos para esta­belecer alguns pontos no sentido de auxiliar Natal sair da crise. Mesmo não participando de forma orgânica deste governo, acho que deveríamos pelo menos ter conversado para levantar alguns pontos. No segundo turno, Carlos pediu 200 dias para limpar a cidade, talvez nós pudéssemos ter pego isso ao pé da letra e trabalhar juntos duzentos dias  e ver o que sairia desse trabalho. Se ele fosse correto durante esse período, nós avaliaríamos as possibilidades, mas no cenário atual o PT está afastado oficialmente dessa relação, mas temos filiados recebendo convites para atuar com Carlos, o que gera um certo constrangimento mútuo e precisamos encontrar alternativas para que isso não se torne uma crise.

Muitas vezes os partidos são criticados por ser adesistas. Agora o PT está sendo criticado por não aderir o governo que ajudou a eleger.
Adesistas nós não somos, isso é fato comprovado. Nós já participamos de vários governos, como o de Wilma, Iberê e do próprio Carlos, mas sem ser adesão, sem a troca de favores. O problema é que a experiência não foi positiva. Isso deixou um trauma porque nós fomos do governo e não fomos empoderados para efetivamente exercer nosso papel. Isso aconteceu na Secretaria de Saúde, na Fundação José Augusto, de chegar ao ponto de pleitearmos várias vezes uma conversa com a governadora e essa conversa nunca sair. Qualquer relação em governos é difícil. Quase nenhum governo é um mar de rosas. Mar de rosas só no de Ro­salba, mas esse do ponto de vista negativo, mas de rosas com muitos espinhos.

Nessas eleições o destaque foi dos institutos de pesquisa, que não deram mais de 13% de intenção de voto para Mineiro. Mas quando abertas as urnas vimos que ele obteve quase o dobro de votos previstos e por pouco não chegou ao segundo turno. Qual a percepção do partido quanto aos institutos de pesquisa?
Eles erraram redondamente. Não posso afirmar que tenha havido má fé, mas erro houve, inclusive do contratado por nós. Há uma leitura de que nosso crescimento foi na reta final e os institutos  não conseguiram perceber. Nós sentíamos nas ruas que havia um forte crescimento, isso foi perceptível. O problema é que quando não se tem um ins­trumento científico que nos dê essa segurança a população votou achando que ou Carlos venceria no primeiro turno ou que Hermano iria para o segundo turno com Carlos. Perdemos muitos votos porque as pessoas preferem votar em quem está na frente, próximo de chegar. A nossa avaliação é de que, caso fossemos para o segundo turno, poderíamos vencer a eleição. Claro que ficou um gosto amargo, mas isso foi devido uma série de fatores. Nossa direção nacional participou pouco da campanha. O que eu senti na minha campanha em 2010, Mineiro sentiu agora: a ausência de uma fala efetiva. Isso nos deixou com o sabor de que um pouquinho mais e tudo seria diferente.

O que se percebe é que o PT, que tinha mais candidatos a vereadores ligados à cultura e educação, foi prejudicado com o fator Amanda Gurgel. O senhor concorda?
A nossa chapa de vereadores não teve metade dos votos que Mineiro teve, nós esperávamos mais. Eu avaliava que poderíamos chegar a 45 mil votos e só chegamos perto de 30 mil. Pelo menos um vereador nós perdemos, porque boa parcela o eleitorado de Amanda tem o perfil de votar no PT. Todo o grupo da coligação de Robério são pessoas que saíram do PT, inclusive o próprio Robério, assim como Dário Barbosa e a própria Amanda, foram militantes do PT. Amanda é claramente um resultado da grande mídia devido sua aparição no Faustão e o partido que soube trabalhar muito bem suas aparições no horário político e fazendo sua campanha em horário nobre.

Qual vai ser o foco do seu mandato?
Natal e sua Região Me­tropolitana. Natal cresceu muito e embaralhou-se com Parnamirim, São Gonçalo e Extremoz. E eu quero dar um foco maior na revisão do plano diretor e quero dialogar com essas cidades sobre essa nova relação. Em Nova Parnamirim, é visível que deve haver um bom diálogo entre as duas administrações, Redinha Nova da mesma forma. Cada um dos bairros por motivos opostos, Nova Parnamirim cresce todos os dias e Redi­nha Nova é um caso de derrota urbana: está abandonada e lá passa o Rio Doce, tem as dunas e é casa dos principais cartões postais do Estado. Nós temos que ter um debate ambiental, de abastecimento de água e alimentos, o que envolve  toda Região Metropolitana, porque Natal quase não produz alimentos, mas é o grande consumidor do Estado. Até mesmo o posicionamento geográfico da Ceasa precisa ser revisto, pois sob o ponto de vista da mobilização urbana a Ceasa está mal posicionada, devido o crescimento da cidade. Nessa situação também está a rodoviária. A mobilidade urbana que deveria sair em decorrência da Copa deve ser abordada com força e dedicação. Nós temos uma trajetória importante dentro do PT sobre esse tema e eu quero associar a verticalização urbana com a preservação ambiental e afirmar que é possível crescer sem atropelar a mata, os passa­rinhos  e os riachos. Nosso crescimento por cima do Rio Pitimbum foi desastroso. O rio está praticamente aterrado, não precisava disso, ele poderia ter sido preservado e ainda assim a cidade ter se desenvolvido. Ainda há tempo de colocarmos um pé no freio nesses aspectos prejudiciais à po­pulação. Aqui mesmo no Alpendre, sede do jornal no centro de Parnamirim e nós podemos ver vegetação, ou seja, isso pode ser feito e as construtoras precisam en­xergar essa possibilidade. Não é ir contra construções, mas sim conciliar meio ambiente e desenvolvimento.

Foto: Riane Brito

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