Valmir Moratelli,
iG Rio de Janeiro
Foto: Léo RamosUma das vozes mais elogiadas da nova geração da MPB, Roberta Sá acaba de lançar o CD “Quando o canto é reza”. O trabalho é uma parceria com o trio de percussão Madeira Brasil, formado por Marcello Gonçalves, Zé Paulo Becker e Ronaldo do Bandolim. São treze canções de autoria do compositor baiano Roque Ferreira, que já foi gravado por Clara Nunes, Maria Bethania, Alcione e Zeca Pagodinho.
“É um disco de misturas. É a minha mistura com o ‘Trio’, a música baiana com todo o resto, a religiosidade afro-brasileira com o catolicismo, o amor com o trabalho, o estudioso com o espontâneo. Estar no palco é um momento divino, e isso remete ao nome do disco”, explica Roberta, sempre sorridente. “Nossa única relação é com as divindades da música. Sigo a fé na música”, continua.
O disco permeia por diferentes ritmos genuinamente brasileiros, como coco, maxixe, samba carioca, afoxé e samba de roda. “Aí está a delicadeza do trabalho e o que faz a simplicidade ser um detalhe bastante trabalhado nas letras”, afirma Zé Paulo Becker, um dos que acompanham Roberta no novo show, que estreia no dia 27 de agosto, no teatro Castro Alves, em Salvador.
Casada com o músico Pedro Luis, do Monobloco, a cantora, que nasceu em Natal, no Rio Grande do Norte, fala o que pensa, discorrendo a pedido do iG sobre vários assuntos de sua carreira. De A a Z, detalhes de Roberta Sá.
Alma de Artista. “Percebi que tinha esta alma quando comecei a gostar de estar no palco. Tudo que o artista faz é para chegar naquele momento de dividir seus prazeres com o público”.
Braseiro. “Foi meu primeiro CD. Dele trago até hoje meu entusiasmo com a criação. Acho que montar repertório é dos trabalhos mais criativos que existe. Tenho fome de novidade, gosto de me encher de inspiração”.
Coral. “Morei nos Estados Unidos para um intercâmbio cultural, aos 18 anos. Nesta fase, cantei num coral de escola. Minha primeira percepção foi de tristeza, por perceber que o Brasil perde ao não ter educação musical como lá”.
Democracia. “Não gosto de discutir política. Minha geração precisa se envolver mais com isso, sem esquecer o que temos vivido de bom e de ruim nos últimos anos. Não vejo programa eleitoral, prefiro me informar na internet”.
Erudição. “Não tenho muita erudição, porque não tive formação acadêmica em música, é uma formação mais intuitiva. É importante estudar e buscar ouvir novas coisas”.
Fé. “Tenho fé de que as coisas vão melhorar no mundo, mas não tenho religião. Tenho fé em Deus e, por incrível que pareça, ainda tenho fé no ser humano”.
Gostos. “Tenho muito disco. Quando chego em casa coloco logo um CD. Ouço Frank Sinatra, Elza Soares, Gil... No meu gosto pessoal cabe de tudo”.
Homenagens. “Já homenageei Ataulfo Alves, João Donato, Tom Jobim. Mas o novo CD, sobre o Roque Ferreira, é a primeira homenagem que faço por vontade própria, e não um convite de outros”.
Imagem. “Minha preocupação é não expor minha imagem pessoal. O que eu passo é verdadeiro, sou 100% o que você vê profissionalmente. Não sei mentir”.
Jovem Guarda. “Meu pai adora tudo daquela época. Ouvia muito Roberto Carlos em casa, além de ver os filmes dele. Cantei com Erasmo Carlos num programa de TV recentemente, foi incrível”.
Liberdade. “Eu só consigo trabalhar se for com liberdade. Não sei fazer o que dizem que é para fazer. Minha carreira não é pautada pelos outros. A palavra inicial tem que ser minha”.
Madeira Brasil. “Minha vida é cheia de encontros e este está sendo ainda mais especial. Aprendo muito sobre a visão de música deste trio maravilhoso. Dividir este trabalho com eles está sendo bacana, o peso não é só meu”.
Natal. “Estou no Rio há 21 anos, mas Natal é aquela coisa de comida de avó, casa em fazenda... Minha família ficou lá, assim como os amigos. Saudades de lá. Vou voltar pra Natal em outubro, preciso voltar”.
Orkut. “Comecei a carreira e recebia cartas de fãs. Depois, passei a trocar mensagens com fãs pelo Orkut. Mas saí. Agora voltei com as redes sociais, via twitter. Por sugestão da Luiza Possi, há dois meses, que insistiu para que eu entrasse”.
Pedro Luis. “É meu principal compositor. Quando o conheci, primeiro me veio a imagem social dele. Sou superfã. Ele interfere no meu trabalho e vice-versa. Ele tem delicadeza nas colocações, sabe interferir em mim”.
Qualidade. “É impossível cantar o que não se sente, ao menos para mim. Qualidade passa por aí, pelo meu gosto. Preciso me convencer de que vale a pena gravar uma determinada canção”.
Roque Ferreira. “É um elo perdido, não um elo achado. Um compositor incrível que prefere se manter meio recluso, na dele, lá na Bahia. Pedi para ele uma música para gravar e me mandou seis. Depois, chegamos a este CD todo com canções dele”.
Samba. “É a grande majestade da música brasileira. Bossa Nova, como diz João Gilberto, é um samba devagar. É minha referência musical. Samba da Bahia é samba de coco... É um gênero tão rico que, se você quiser passar uma vida só gravando samba, não vai se repetir”.
Trilha de novela. “Minha música ‘Fogo e Gasolina’ está em ‘Passione’. Adoro novela, melhor ainda ver minha música numa das cenas. Ainda farei um CD inteiro sobre trilhas de novelas. Se eu não fosse cantora, trabalharia com trilhas. Novela é popular, entra na casa das pessoas e leva junto sua música”.
Utilidades. “É bastante egoísta o que vou dizer, mas a maior utilidade da música é o meu prazer. É meu prazer chegar até o público com o que canto. Sem demagogia, por eu ter feito o programa ‘Fama’, que era muito popular, percebi a responsabilidade do artista junto ao público”.
Vaias. “Não gosto de agressividade. Crítica não me incomoda, apesar de ter acontecido muito pouco até hoje. Tive a sorte de ser bem recebida pela crítica. Fazer um disco, como um livro, é um ato de coragem, é a verdade de alguém. Fico chateada quando a crítica é para ferir”.
Xirê. “É um samba de roda, que inclui neste disco. Tem um verso que diz ‘Seu namorado serei, serei, serei, sereia”’. Tem coisa mais linda? Fala da alegria da mulher dançando, tem a ver com a brasilidade popular. É uma música que fala de paixão”.
Zeca Pagodinho. “Zeca já gravou ‘Água da minha sede’ e ‘Samba pras moças’, dois grandes sucessos de Roque Ferreira. Quando o encontrei pela primeira vez, já tinha tomado umas cervejas, batemos um papo e só depois alguém me chamou pelo nome. Aí ele: ‘Você é a Roberta Sá?’. Respondi que sim. E ele: ‘Por que você não me disse que você era você? (risos). Achei o máximo”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário