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Micarla no País das Maravilhas

Cefas Carvalho

Definitivamente, a prefeita de Natal, Micarla de Sousa (PV) - que mais uma vez se afastou da administração à guisa de tratamento de saúde e repouso - , vive em um mundo diferente do da população natalense, pelo menos do de 84% dos natalenses, que desaprovam a sua administração, segundo recente pesquisa de um instituto.
Chocou políticos e parte da opinião pública a declaração de Micarla à Folha de São Paulo de que o movimento “Fora, Micarla” limitou-se a algo de poucas pessoas no mundo virtual. Por acaso a prefeita não viu ou não soube que centenas de estudantes ocuparam o pátio da Câmara durante 11 dias, em um protesto que foi registrado nos principais portais e jornais impressos do Sudeste e desaguou com uma decisão do STF favorável aos manifestantes.
Para o deputado estadual Fernando Mineiro, “a prefeita desconectou-se por completo da realidade”.

ALICE
Nas redes sociais - as mesmas onde foi deflagrado o “Fora, Micarla” - a postura da prefeita foi motivo de chacota e ironia. Como Micarla mantém uma agenda de eventos oficiais e mostra-se quase invariavelmente sorridente, não faltou quem a apelidasse de “Micarla no país das maravilhas”, menção à personagem do inglês Lewis Caroll, imortalizada no cinema. Trata-se da menina que mergulha em sua imaginação em um mundo paralelo e bonito. Bem ao estilo da alcaide natalense que não vê os buracos nas ruas, o caos nas escolas e creches municipais, a inoperância dos postos de saúde, a inércia da gestão cultural, os “calotes” em fornecedores e artistas.

O EXEMPLO CABRAL
Há quem registre que esta política de Micarla de acreditar que Natal está uma maravilha e que as críticas não passam de rancor da oposição pode prejudicá-la ainda mais. Evidência disso foi a postura do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral na semana passada.
Tendo começado bem o governo, Cabral amargou denúncias de favorecimento a empresas de amigos, uma crise com os bombeiros cariocas e problemas com o efeito das chuvas. Em vez de contra-atacar, concedeu entrevistas fazendo uma autocrítica e afirmando que quer reavaliar os erros e acertar o rumo do governo. A humildade foi elogiada pela imprensa e até por alguns adversários, e a expectativa é que Cabral ganhe mais pontos nos índices de aprovação na próxima pesquisa.
Em Natal, quais as chances de Micarla fazer algo parecido? Quase nenhuma. Em primeiro lugar devido à postura da prefeita de acreditar que Natal está uma maravilha, logo, não haveria o que mudar.
Em segundo lugar, porque, a exemplo da menina Alice, Micarla não se cerca de conselheiros sensatos. Na história, Alice se mete em problemas devido aos conselhos insensatos do Chapeleiro Louco e do gato Maluco. No “país das maravilhas” de Micarla, ela conta com número ínfimo de interlocutores confiáveis. Não consta que ela se aconselhe com a mãe, Miriam de Sousa (que foi candidata a prefeita de Natal) ou com o marido, radialista Miguel Weber. Micarla não mantém relacionamento harmonioso com o vice-prefeito Paulinho Freire e também não tem vereadores de confiança total na sua base. Restam o chefe de gabinete Kalazans Bezerra e o senador Paulo Davim, que têm histórico de militância na esquerda e gozam de mais credibilidade que ícones do PV, como os deputados Paulo Wagner e Gilson Moura. Muito pouco para a prefeita abandonar seu país das maravilhas e conectar-se à realidade a tempo de tentar a reeleição.

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