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Entrevista com o ator César Amorim: “Investi no meu sonho de ser ator e não me arrependo”

Cefas Carvalho

Natalense que reside e trabalha como ator no Rio de Janeiro há quase duas décadas, César Amorim (nascido Josecildo César Ferreira Amorim) mostra que é possível viver da arte em uma grande cidade. Nascido em  maio de 1968, César é graduado em Engenharia Civil, pela UFRN; graduado em Autor e Roteirista para TV, pela Universidade Estácio de Sá/RJ; pós-graduado em Arteterapia, pela Universidade Cândido Mendes/RJ e hoje, ator, diretor e dramaturgo. Em entrevista ele falou sobre início de carreira, conquistas porofissionais e teatro. Confira:

Como você começou no teatro e na militância artística-cultural?
Comecei no ano de 1990. Na verdade, a minha paixão pelo mundo artístico se deu muito antes, ainda criança, lá pelos anos 70, quando acompanhava as novelas da Tupi. Era um noveleiro incansável... (risos). Eu via aquelas tramas melodramáticas e queria fazer parte daquilo de alguma maneira. Tanto que, quando ainda estava no Ensino Médio, cheguei a escrever e encenar uma peça para a aula de Educação Artística. A primeira peça que vi foi “O Casamento da Baratinha”, do Jesiel Figueiredo. Fiquei fascinado...  Tenho histórias engraçadas com meu irmão, alguns anos mais novo que eu. Eu o trancava no quarto, o colocava sentado na cama e interpretava pra ele... Imagina, eu, um garoto por volta dos 9 anos, querendo a crítica de um outro de 6... A comédia na minha vida já começou aí... (risos). Meu irmão foi, de fato, minha primeira plateia.

A partir daí decidiu estudar teatro?...
Decidi estudar teatro quando colei grau em Engenharia Civil, pela UFRN.  Formei-me numa semana e, na outra, fui para o Rio de Janeiro. Foi minha primeira vez na capital fluminense.  Fui com o intuito de estudar teatro e ver se era isso mesmo que queria pra minha vida. Tinha, na época, 21 anos.  No mesmo ano, passei em primeiro lugar no vestibular para a Escola de Teatro Martins Pena e vi que aquilo era um sinal de que estava no caminho certo. Essa primeira temporada no Rio durou quase três anos. Voltei pra Natal no início de 1993, pois tudo estava muito difícil no Rio. Em Natal, comecei a fazer teatro efetivamente. Tive que sair da minha cidade e voltar pra ter a certeza de que o teatro era a minha praia. Uma vez mais em Natal, em 1993, escrevi, dirigi e atuei na comédia “Debnacoabete”, uma peça que falava sobre a História do Teatro de uma forma muito maluca. Foi um sucesso.
No ano seguin­te, entrei no colégio Marista. E a partir daí passei a viver de teatro, ao menos viver de lecionar teatro... Foi nesse período de professor de teatro que passei a me exercitar como dramaturgo e diretor. Foi muito rico. O colégio me deu carta branca e eu pude colocar em prática tudo o que havia aprendido. Mas minha vida teatral continuava fora do colégio, claro. Também dirigi e atuei na peça “Diet Olga”, tendo Henrique Fon­tes e Marcelo Cha­ves como parceiros.
Nesse ínterim, abri meu próprio curso de teatro, o Cenação, que durou dois anos... Algum tempo e algumas peças depois, cheguei na peça “As Fúrias”, que, sem dúvida, foi o meu maior sucesso e prazer. Foi justamente essa receptividade, lá pelo ano 2001, que a vontade de voltar a morar no Rio tomou forma. Estava mais maduro, mais experiente, mais consciente do que pretendia e do que gostaria de fazer em teatro...

Como surgiu a vontade-necessidade de ir para o Rio de Janeiro viver-trabalhar e adentrar no meio artístico-cultural?
Bom, a vontade de viver no Rio novamente, de me dar uma segunda chance, surgiu depois do sucesso de “As Fúrias”. Resolvi fazer uma pós-graduação na capital carioca e fui com mala e cuia... (risos). Fiz minha pós em Arteterapia e, paralelamente, entrei num grupo de teatro, a Artesanal Cia de Teatro.  O Colégio Marista  havia me dado dois anos de licença e ao final desse período pedi a demissão para continuar morando no Rio. Adorei cada momento que vivi com meus alunos, mas estava na hora de retomar meu sonho de onde o havia interrompido. E foi isso que fiz e não me arrependo nem um segundo. No Rio, passei a atuar, dirigir e a escrever bastante, tanto que ingressei na faculdade Estácio de Sá e me graduei em Autor e Roteirista para TV.  Ainda é um sonho, escrever para a televisão...

Fale sobre a experiência de escrever, dirigir e atuar em “As Fúrias”, que marcou época em Natal.
“As Fúrias” foi um das alegrias profissionais que tive  em Natal. Foi um sucesso. Ficamos cinco meses em cartaz na Casa da Ribeira, com um bom público, um fato inédito até então. Praticamente todo o elenco era formado por ex-alunos meus do Marista. Com eles fundei o Grupo de Teatro Ditirambo, que só me trouxe alegrias. Convidei esses ex-alunos para montarmos um grupo e a aceitação foi imediata. Começamos os trabalhos. Não tínhamos nada em mente, o nosso objetivo inicial era estudarmos, sem pressa. Nos demos um ano para nos prepararmos e descobrirmos o que gosta­ríamos de fazer. Nesse meio tempo, escrevi um esquete,  que mostramos num evento na Casa da Ribeira. Foi o surgimento do grupo.
Ao final de um ano estudando os gregos, as tragédias e tal, chegamos à conclusão que seria bem interessante se iniciássemos os trabalhos fazendo jus ao nome do grupo – Ditirambo era o nome que recebia um cortejo em homenagem ao deus do vinho, Dionísio, na Grécia Antiga. Conta a História que foi a partir desse cortejo que surgiu o teatro. Bom, já tínhamos um nome grego, então pesamos em fazer uma peça em cima disso.
De volta ao grupo Ditirambo: Pensamos em várias possibilidades até que lemos num livro sobre a mitologia grega a história da tragédia na casa de Agamenon – general que lutou na guerra de Tróia -, que deu origem a uma trilogia de Ésquilo, A Oréstia. Foi incrível! Todos, absolutamente todos nós do grupo nos apaixonamos pela história trágica de amor e vingança e decidimos investir nisso. Escrevi minha própria tragédia, na verdade minha própria trilogia trágica... (risos). E tal como acontecia nos festivais dionisíacos, onde cada autor apresentava uma trilogia trágica seguida de um drama satírico, ou seja, uma tetralogia, eu escrevi a minha.

 Quais suas influências culturais?
Minhas influências culturais são as mais variadas possíveis. Como já disse, antes de estudar teatro efetivamente, era fã de novela, dos melodramas. Então, novela é a primeira influência na minha vida artística. Ao mesmo tempo, vieram os filmes dos grandes comediantes: Jerry Lewis, Chaplin, Jacques Ta­ti, Mazzaropi, enfim gê­nios que sempre me fazem rir.  Spielberg foi fundamental, me fez sonhar ainda mais alto, mas também tinha Hitchcock – sou fã incondicional de filmes de suspense -, Fellini, John Hughes – que fez de­liciosos filmes sobre e pa­ra adolescentes -, Monty Py­thon, todos da Disney etc. Na fase adulta, descobri e me apaixonei por Almodóvar, Kubrick, Cha­brol, Woody Allen, Scor­sese, Ta­rantino, enfim a lista é imensa. Na literatura e dramaturgia, Monteiro Lobato, Agatha Chris­tie, Nelson Rodrigues, Shakespeare, Tennessee Williams, Sidney Shel­don (adorava suas his­tórias de suspense e melodramas absurdos...), Alexandre Dumas Pai e Filho, Ar­thur Conan Doyle...

 Morando no Rio e com a visão apurada de quem vê de longe, como observa a cena teatral potiguar atualmente?
- Olha, confesso que não estou tão inteirado assim do que está acontecendo. Sempre vou a Natal muito rapidamente e não passo mais de duas semanas a cada duas vezes por ano. Sei que existe uma tentativa de organização e união entre os grupos, o que é fundamental. Sempre ouço falar de algum acontecimento, movimento, espetáculo. Vejo notícias sobre oficinas na Casa da Ribeira, eventos lindos na rua da Casa;  espetáculos e oficinas no barracão dos Clowns, com os compo­nen­tes dos Clowns de Shakespeare; notícias sobre Henrique Fontes e o seu grupo; e o surgimento de grupos no­vos e jovens artistas que estão tentando manter e perpetuar o fazer teatral na ci­dade. Acho que tudo está mais sério, sendo encarado com profissionalismo, e isso faz toda a diferença.

Fale sobre a experiência de encenar uma peça inédita de Tennesse Williams (Não sobre rouxinóis) que foi aclamada pela critica carioca.
 Foi muito bom fazer esse espetáculo. Infelizmente, não participei de todo o processo, mas tive acesso a todo o material estudado pelos atores. Entrei na peça duas semanas antes da estreia. O João Fonseca, diretor do espetáculo, me convidou e eu topei na hora. Havia visto um ensaio aberto e tinha saído emocionado com tudo. Era um papel pequeno, que aparecia depois de uma hora de peça, mas que tinha força e uma cena intensa com o protagonista. Foi um prazer fazer, além do que foi a primeira vez que esse texto foi montado no Brasil, ou seja, participei de uma montagem histórica. Nem tradução existia dessa peça até que o Eduardo Rieche, produtor, tradutor e o outro protagonista, resolveu montá-la. Ela foi descoberta pela Vanessa Redgrave, atriz inglesa, quando fazia uma pesquisa sobre Tennessee Williams. Ela ficou tão fascinada pela His­tória real que era contada – sobre uma rebelião de prisioneiros numa prisão de segurança máxima nos EUA na década de 30 -, que resolveu dirigi-la, tendo seu irmão como o protagonista. A peça à época de sua primeira montagem no final da década de 90 ganhou vários prê­mios Tony, o Oscar do teatro americano. O meu personagem era o Capelão do presídio.

 Quais os próximos projetos?
Ano que vem, preten­de­mos continuar com os dois outros espetáculos que apresentamos esse ano, ambos com excelentes críticas: ­Bette Davis e a Máquina de Coca-Cola (comédia adulta, com direção de outro potiguar, o Diego Molina) e Histórias de Alexandre (comédia infanto-juvenil, a partir do original homônimo de Graciliano Ramos). Sou somente ator em ambos. Ficamos em cartaz durante boa parte desse segundo semestre e devemos voltar em 2013.  Além disso, tenho alguns projetos que estão sendo inscritos em editais. Agora é cruzar os dedos e torcer para serem aprovados...

Foto: Divulgação (César Amorim em cena no espetáculo Bette Davis e a máquina de Coca-cola)

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