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Mineiro: “Entrar em 2010 com indefinição do nome não é bom para o grupo”


A série de entrevistas "No alpendre do PN", publicada as segundas-feiras no jornal Potiguar Notícias, conversou com o deputado estadual Fernando Wanderley Vargas da Silva, mais conhecido como Fernando Mineiro. Natural de Curvelo-MG, pai de um filho, morador de Natal desde 1975, Mineiro é professor da rede estadual de Educação e está no exercício de seu segundo mandato. Acumula a experiência de quatro mandatos como vereador em Natal e foi um dos fundadores do PT e da CUT no Rio Grande do Norte. Confira a entrevista concedida aos jornalistas Cefas Carvalho, Pinto Júnior e Roberto Lucena:

Cefas Carvalho: Vamos começar falando de 2010. Qual sua expectativa com relação ao PT participar da disputa majoritária?

Acho que 2010 está palpitante apenas para nós que vivemos na política, mas para a sociedade em geral acho que ainda está distante. O PT tem uma prioridade, que é o projeto nacional, aliás, a questão nacional sempre orientou nossas ações. Nossa prioridade zero é a sucessão do presidente Lula. Durante os mandatos de Lula, teve mudanças importantes e significativas. Precisamos fazer um balanço do governo Lula, analisar o que foi importante e o que precisa avançar e consertar o rumo. A sociedade brasileira não deve retroceder. Quem conhece a história do Brasil minimamente sabe que o governo Lula tem feito a diferença. Devemos aproximar o projeto estadual do projeto nacional. As questões locais às vezes imperam e decidem, mas seria bom se a disputa no estado estivesse em sintonia com a disputa nacional. Naturalmente teremos uma polarização entre aqueles que querem consolidar e avançar e aqueles que querem retomar o governo e olhar para trás.

Pinto Júnior: Isso dependeria principalmente da decisão do PMDB que está dividido entre a opinião de Garibaldi e Henrique.

Principalmente. Porque o PMDB é o maior partido que tem um papel importante no governo Lula. No RN, o PMDB não participa do governo do qual nós participamos, que é do PSB. Aqui temos uma diferença: o PT participa do arco de alianças do PSB e o PMDB não está nesse arco. Mas isso acontece também em Pernambuco de maneira mais acirrada porque, lá, o PMDB é oposição nacional e estadual. Aqui, não. O PMDB é situação nacional. Pelo que tenho acompanhado na impressa, existe uma diferença de intenção entre Garibaldi e Henrique, mas isso é uma questão interna do partido. Penso que seria positivo, para essas forças políticas nacionais, que o PMDB local se integrasse ao bloco da governadora e chegássemos juntos em 2010.

CC: Isso significaria mais uma eleição com a aliança PSB-PMDB-PT. Visto que você já analisou a derrota de Fátima para Micarla, qual seria a expectativa dessa aliança agora?
Precisamos entender que a aliança de 2008 foi restrita a Natal. Pode parecer bobagem, mas cada eleição é uma eleição. O que mobiliza a sociedade para uma eleição municipal é diferente do que mobiliza para uma eleição estadual vinculada a eleição nacional. Temos que entender que a eleição de 2010 tem um vínculo direto com a eleição nacional. Vamos alinhar forças do estado no projeto nacional. Temos que superar uma das debilidades que aconteceu em 2008 em Natal: a forma abrupta como foi feita a aliança, de cima para baixo. A aliança não foi ruim, foi importante. Eu sou defensor da aliança dentro da base do governo Lula. Isso não quer dizer que a gente não tenha que analisar o que deu errado. Por isso eu defendo que o bloco de forças, hoje aliado do PSB em nosso estado, não prolongue até 2010 a definição. Eu digo assim: é bom que a base em volta do PSB tenha mais de um pré-candidato, mas é bom até o final do ano. Entrar 2010 com indefinição não é bom. Você não tem tempo de trabalhar um nome, um projeto. Não devemos cometer um segundo erro: a fulanização da discussão. A discussão em cima de nomes demais. A escolha tem que ser de projetos, de propostas.

PJ: Quando converso com políticos e questiono sobre projetos, via de regra só ouço respostas de projetos políticos pessoais ou partidários. Parece que propostas para o desenvolvimento do estado ficam esquecidas.
Lamentavelmente, sim. Concordo. Por isso que, mesmo que fique uma repetição da minha parte ou falando muitas vezes num deserto, sempre insisto na questão do projeto de desenvolvimento do RN. Por exemplo, qual o lugar que o RN tem dentro do contexto do Nordeste? E nacionalmente? Como se situa um estado com a economia muito dependente do setor público, como aponta para o desenvolvimento nas questões sociais? Qual o lugar do turismo? Quais as políticas regionais? Nós temos que discutir projetos regionais. Como fica a questão da educação? A questão da segurança? Vamos continuar vivendo de espasmos mais ou menos repressivos ou teremos um projeto de segurança mais geral envolvendo as polícias Militar e Civil? E a questão da saúde? Isso é um problema.

PJ: Há ainda o problema de desertificação que no estado se aprofunda. Nenhum político fala nesse assunto.
Eu discuto esse assunto quase todos os dias. As principais atividades econômicas do RN têm impacto ambiental. Todas elas. Está em fase de elaboração, na Assembléia Legislativa, um plano estadual de ação contra a desertificação.

PJ: No Seridó e Vale do Açu continua a dependência de madeira com relação às cerâmicas.
O Brasil elaborou em 2006 o seu Plano de Ação Nacional de Combate a Desertificação e Redução dos Efeitos da Seca. A partir dessa elaboração, foi pactuado com os estados que estão no Semi-Árido, que estes também elaborariam seus planos. Em junho, fizemos três oficinas aqui no estado (Mossoró, Pau dos Ferros e Caicó) e estamos agendando uma para João Câmara. Depois disso, haverá um grande seminário onde se baterá o martelo sobre o plano estadual do RN. Essa questão da cerâmica, que atinge mais fortemente o Seridó e o Vale do Açu, tem um problema: de um lado eles usam a lenha e do outro a argila. Tanto lenha como argila não são mais originários do RN. O pessoal compra lenha que vem de fora. Não adianta eu fazer reunião com ceramistas e dizer para eles que eles são causadores da desertificação. O Estado tem que pensar uma ação para diminuir isso, através de tecnologia, e de outro lado dá alternativa de renda para essas pessoas. Pensar em problemas ambientais é pensar no futuro e a política é muito imediatista. O candidato assume o mandato e já está preocupado com a próxima eleição. Essa lógica contamina a política.

Roberto Lucena: Voltando a falar de política. Qual sua avaliação dos sete meses do governo Micarla de Sousa?
Não tenho surpresas. Não tinha nenhuma expectativa em termo de impactar e mudar o rumo político da cidade do Natal. Até mesmo pelo conjunto de forças que a elegeram, que não tem uma visão de gestão a altura que a cidade merece. As demandas, os problemas e as bandeiras sobre a qual ela se elegeu, se for analisar, o que andou? Saúde, por exemplo. Disponibilizei em meu site todas as promessas que Micarla fez. 30% das falas eram direcionadas para saúde. Na verdade, é a política movida pelo imediatismo. Porque todas as pesquisas diziam que as pessoas criticavam mais a saúde. Então eu vou me apresentar como o candidato da saúde. E eu pergunto: o que mudou na saúde? Nada. Foi vendido um produto. Um repórter me perguntou se a aliança de 2008 não se frustrou. Mas será que a sociedade de Natal não está frustrada com quem ganhou a eleição? Eu acho que já começa surgir uma frustração por parte das pessoas que votaram em Micarla. Qual o rumo desse governo? Me diga quais as principais ações que o governo Micarla fez em Natal? Nada. Ela pontuou sete meses olhando para o retrovisor. Micarla só aparece na imprensa criticando a administração passada. O balanço que eu faço é que está sendo aquilo que eu previa: uma inapetência para apresentar uma gestão que mexa com a cidade.

RL: E falando da Assembléia Legislativa, que está em recesso. Como foi esse primeiro semestre?
Eu estou recesso do Plenário. O meu gabinete funciona de manhã e de tarde. A única coisa diferente, para mim, é que não tenho mais sessão no Plenário. Acho o Poder Legislativo, de uma forma geral, é muito distante da sociedade. A população deveria cobrar mais dos seus representantes, acompanhar mais. A representação política é uma situação muito crítica, tem uma baixa legitimidade. O sistema político brasileiro precisa de uma profunda reforma. O sistema está falido. Essas crises no Senado e tantas outras são decorrentes do próprio sistema político brasileiro.

CC: Qual o projeto do PT com relação a aumentar a bancada na AL e voltar à Câmara de Natal?
Depois de 20 anos, não temos nenhum representante na Câmara. 2008 foi uma derrota profunda porque tirou nossa representação. Ficamos sem voz institucional. Nosso projeto no estado é ampliar nossa representação federal e estadual. Nos próximos dias, o diretório regional irá fazer uma reunião onde vamos discutir a tática eleitoral. Sou defensor que o PT reivindique a discussão sobre a chapa majoritária. Vamos lançar uma chapa própria tanto para federal como estadual? Vamos discutir com nossos pares. Temos nomes para isso. Se vamos lançar uma chapa petista pra Câmara Federal, quem são nossos candidatos? Nós teríamos peso suficiente para manter o mandato de Fátima e ampliar para outros nomes? Quem são os nossos candidatos a deputado estadual? É normal trabalhar para manter o meu nome, mas vamos lançar outros? Então esse é o debate que vamos começar a fazer. Eu advogo que estamos atrasados demais. Esse atraso geral da chapa que encabeçamos tem impactado. Quem vai ficar com quem?

PJ: Essa demora não vai fazer que vocês sejam levados a participar do "chapão" liderado por Wilma?
Eu acho que corre esse risco. Eu sou defensor da aliança, mas nós temos que ter um caminho próprio. Não podemos ficar de braços cruzados esperando uma definição. Nós tivemos uma conversa com o PSB há dois meses e falamos que é importante o PSB se posicionar no cenário e convoque os partidos aliados para poder debater institucionalmente essa questão. Eu advogo que seja montada uma mesa permanente de conversa sobre 2010 entre os partidos. Como vai definir as candidaturas? Não pode ser na porrinha nem na porrada, tem que ser na base do diálogo pra saber qual nome e projeto que mais agrega. Se o PT ficar esperando que os outros partidos definam, não só o PT, mas os demais partidos ficarão subordinados a essa lógica.

PJ: O prefeito Salomão Gurgel (Janduís) se colocou como candidato a governador. O PT, de forma geral, parece que não deu muito importância.
Não é questão de dar importância. Nós temos um fórum, quem quiser se candidatar vai lá. Eu fiquei sabendo da posição de Salomão pelo jornal. Eu não discuto posição do PT pelo jornal. Quem quer que seja.

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