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Os livros de auto-ajuda e suas regras que de pouco valem


Cefas Carvalho

Dia desses, não recordo como, recebi panfleto de uma editora com os livros recomendados para se adquirir e presentear os entes queridos. Devorador de livros que sou, desandei a ler os títulos sugeridos. Uma sensação desagradável apoderou-se de mim. Explico: todos, repito, todos os 41 livros sugeridos eram de auto-ajuda ou com teor edificante. Desde uma bem intencionada biografia de Michelle Obama (“A primeira dama da esperança”, de Elizabeth Lightfoot”) até títulos a meu ver bizarros como “Casais inteligentes enriquecem juntos” (de Guatavo Cerbasi) e “Como educar crianças temperamentais” (de George Kapalla).
Tenho amigos que não lêem este tipo de livros, mas, almas boas que são, mostram tolerância com tais obras, seus autores e seus leitores. Não eu. Para mim são um desserviço à literatura, ao mercado editorial e aos leitores. Quem os compra, acredita piamente que vai ter sua vida modificada. Um engano. Um livro só muda a vida de alguém quando você aplica o livro à sua vida, como muita gente já fez com “Sidarta”, de Hesse, “On the road”, de Kerouac, não o contrário, de aplicar sua vida às regras que um livro de auto-ajuda coloca. Ora, para estes livros, todos são iguais. Como comparar uma criança dinamarquesa com uma carioca? Como o mesmo livro determinar igual educação para um menino afegão e uma menina chilena?
Detesto essa mania dos tempos atuais de toda ajuda ser decodificada e específica.Ora, um livro só vai servir para a sua vida pelo que você retira do livro, como alguém que descobre na dor de uma Florbela Espanca a sua própria dor e aquele livro de poesias passa a dar alívio.
Para mim, e já escrevi isso antes, auto-ajuda é a leitura de obras que como diz Milan Kundera, investiguem o ser humano.
Ah, voltando ao catálogo dos livros, nada se compara a “O reencontro das borboletas apaixonadas”, de Keith Richardson, que tem o subtítulo “Uma viagem em busca da autodescoberta espiritual”. Gastar 42 pilas em um livro com este título? Ninguém merece. Ou melhor, muita gente até merece ler esse tipo de coisa. Que as borboletas fiquem com seus leitores e que continuemos nossa peregrinação em sebos e livrarias atrás de obras de Agualusa, Saramago e Dalton Trevisan.

Um comentário:

  1. É engraçado como os livros de "auto ajuda" exercem um atrativo poder a leitores menos efusivos. Meu chefe me indicou para ler "Pais ricos.." nem me lembro do título. Uma lástima. Aproveitei e indiquei a ele "O Príncipe" de Maquiavel. Livros de "auto-ajuda" têm o título ideal, ajudam seus autores a ficar com a conta bancária bem recheada.

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