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O brucutu canadense e a Marcha das Vagabundas

Cefas Carvalho

Tudo começou com comentários infelizes e machistas do policial canadense Michael Sanguinetti. Durante uma palestra sobre segurança na Escola de Direito Osgode Hall, em Toronto, o cidadão proferiu daquelas “pérolas machistas” que cansei de ouvir em redações, bares etc: "Vocês sabem, eu acho que nós estamos fazendo rodeios aqui", ele teria dito aos estudantes. "Disseram-me que eu não deveria dizer isso, mas as mulheres devem evitar se vestir como vagabundas, para não ser tornarem vítimas de ataques sexuais", afirmou.
Claro que a cretinice do rapaz ganhou repercussão negativa. Após seus comentários serem postados na internet e receberem críticas, Sanguinetti se desculpou e foi advertido pela polícia de Toronto.
Mas, para muitas – muitas mesmo, milhares – de mulheres, isso não foi suficiente. Com a ajuda das redes sociais, universitárias, advogadas, profissionais liberais, militantres feministas iniciaram um movimento de protesto que vem ganhando as ruas de vários países. Chamado de 'SlutWalks' (Marcha das vagabundas, em tradução livre, o movimento tem como objetivo, dizem as organizadoras do movimento, chamar a atenção para a cultura de responsabilizar a vítima por casos de abuso ou estupro.
As passeatas do grupo, convocadas por meio de grupos no Facebook e pelo Twitter, vêm reunindo milhares de pessoas, muitas vestidas de maneira comportada, outras de forma provocativa. Cerca de 3 mil pessoas participaram da primeira SlutWalk, em Toronto, no mês passado. O site do movimento diz que pretende "se reapropriar" da palavra slut (vagabunda), usada pelo policial em seus comentários. Durante a marcha, as mulheres se vestem, na maioria, com roupas provocativas e maquiagem exagerada.
Com a repercussão dos primeiros protestos, o movimento já se espalhou para outras cidades do Canadá e para cidades de Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, Grã-Bretanha, Holanda, Suécia e até mesmo da Argentina. No último sábado, cerca de 2 mil pessoas participaram de uma SlutWalk em Boston, nos Estados Unidos, sob gritos de guerra como "Nós amamos as vagabundas" e "Jesus ama as vagabundas".
Uma marcha semelhante já foi convocada para o dia 4 de junho no centro de Londres. O site do evento já conta com 4 mil confirmações de presença na passeata. Outros eventos semelhantes estão sendo programados para o mesmo dia em outras cidades da Inglaterra, da Escócia e do País de Gales. Que as feministas brasileiras organizem a marcha nas cidades deste país tropical bonito por natureza, mas entupido de homens que lamentavelmente ainda pensam como o ilustre brucutu canadense.

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