Uma “raposa política” que não entende de política. Esse pode ser o perfil do deputado estadual Agnelo Alves (PDT), que afirma ser jornalista e “estar político”. Ele esteve no “Alpendre do PN” na quarta-feira dia 17, quando foi sabatinado pelos jornalistas José Pinto Junior, Cefas Carvalho e Rômulo Estânrley sobre política, administração e eleições. Confira:
Como está sendo essa experiência na Assembléia Legislativa depois de tantos anos no Executivo?
Eu ainda estou fazendo uma experiência. Eu estive no Senado, tive experiência como senador. Mas na verdade, eu me lembro, tanto no Senado como na Câmara, da minha condição de jornalista. Eu não consegui me desvencilhar do jornalista para ser deputado. E também não consigo conciliar porque o deputado tem que ter um certo jeito, o jornalista não; o deputado precisa ser mais ativo no ponto de vista do discurso e eu prefiro escrever. Então, há esse choque e eu estou governando tentando conciliar e eu acho que chego lá.
Chego lá, onde?
Chegar lá é o objetivo. Qual é o objetivo? Ser tão bom deputado como jornalista.
Diante dos problemas na Grande Natal, o senhor tem um esboço de projeto para a Região Metropolitana?
Tenho. Eu estou fazendo todo o levantamento da Região Metropolitana, porque não adianta você fazer o projeto com um aspecto puramente demagógico. O ponto central da Região Metropolitana é a unificação, conurbação Natal-Parnamirim que já são duas cidades que se interligam normalmente. Só está precisando que o poder público chegue para disciplinar as atividades comuns, de chegar, de sair, de transportar e ser.
E o que é, exatamente, o poder público chegar?
Por exemplo: é inadmissível que você saia de Natal com uma distância muito maior para chegar a Parnamirim e pague o dobro do preço de uma passagem entre a Redinha e a mesma distância em Natal só porque é interurbano. Que tire-se o interurbano e use-se conurbação. Essa é uma razão, mas tem muitas outras. O que tem que acontecer é que os dois prefeitos se entendam bem e que o governo seja parceiro desse entendimento. Parnamirim não pode se divorciar de Natal, nem Natal pode de divorciar de Parnamirim.
E o saneamento de Parnamirim, parece que agora vai, não é?
Já deveria ter ido. É outro assunto importantíssimo. Parnamirim tem três segmentos diferentes: o do litoral, pagado pelo governo do estado; o da Liberdade, totalmente custeado pela prefeitura, porque quando eu fiz o projeto do saneamento fiz pelo BID e quando ficou pronto eu adoeci e não pude ir a Washington apresentá-lo. Mas felizmente foi aprovado, porque o projeto de saneamento de Parnamirim é tão bem feito que foi aprovado pelo BID tranquilamente.
E não foi executado...
Não foi executado porque Lula assumiu a presidência da República e ele mandou alocar todos os projetos referentes às cidades para um reexame e pegou todos esses projetos que ele recebeu de volta e jogou no Ministério das Cidades que ele criou. E ficou lá no Ministério na dependência de um dia tocá-lo pela Presidência da República ou ser dada uma solução internacional ou mesmo nacional, através do programa que ele criou, o PAC.
Então, num belo dia no gabinete, fui alertado por alguns amigos comuns, inclusive o então deputado Nélio Dias, de saudosa memória, saudosa mesmo, pois fez muita falta a Parnamirim. A morte dele foi uma verdadeira tragédia para Parnamirim. Porque nós tínhamos vários projetos em comum, tanto para o orçamento da União, como para o saneamento, e a coisa ficou dependente de uma ação minha, do prefeito junto à presidência.
Mas quando eu me preparei para fazer essa ação através da bancada - Garibaldi, Henrique, Fátima - o presidente Lula se adiantou e mandou buscar os projetos aprovados pelo BID no Ministério das Cidades.
O que o senhor acha do vereador Sérgio Andrade ter assumido o PP estadual?
Eu não achei nada. Porque se eu achasse, precisaria me encontrar primeiramente com a política. Eu ainda estou na política sem saber fazer política, porque eu nunca aprendi. Uma das coisas que eu não aprendi a fazer na vida foi política.
Mas o senhor conviveu com seu irmão Aluízio Alves, quando o senhor nasceu ele já estava fazendo política. Essa convivência não permitiu o senhor aprender?
Isso aí já é outra coisa. Santo de casa não faz milagre. Aluízio ensinou política a todo mundo, mas não me ensinou. Até hoje não aprendi e não resolvi aprender com os outros.
O senhor não acha que o eleitorado lhe considera um político, mais que isso, um expert em política?
Não. Eu acho que o eleitorado me considera um bom gestor. Não tão bom assim, mas o eleitorado acha. O eleitorado de Natal, por exemplo, me fez prefeito e eu tenho obras em Natal que são sequer festejadas porque não são atribuídas a mim.
Por exemplo...
A energia elétrica. A iluminação pública de Natal era através de bico de luz. Só quem podia botar uma iluminação era o estado, que é quem, supostamente, pelo contrato, deveria pagar o consumo, e não pagava. Desde 1937 Natal não pagava a companhia, então o débito era imenso.
O nome do seu filho está bem cotado para a prefeitura. O senhor está otimista com essa pré-candidatura dele?
Se o tema de decisão for o do bom gestor eu fico altamente otimista e confiante de que ele será eleito. Agora, se for de politicagem, de acordão, de coisas dessa natureza, aí sinceramente não sei. Você fala “vamos falar de política”. Política? Os problemas devem ter primazia.
Existe alguma possibilidade de candidatura, um apoio a alguma candidatura?
Acontecerá uma coisa ou outra. Mas a minha expectativa é exercer um bom mandato de deputado e esse mandato para ser bom precisa ser ótimo é para ser ótimo tem que ser muitíssimo bom para Parnamirim. Porque foi o povo de Parnamirim que me assegurou a eleição para deputado estadual.
O eleitor tem a curiosidade de saber: qual a sua motivação política em 2012?
Para 2012, falta 15 dias de agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro (risos).
O eleitor vai ter que esperar para janeiro?
Não vai poder esperar, não. Só vai me ajudar a tomar uma decisão. O eleitorado não pode ficar distante, tem que se manifestar, lutar e querer. Volto a dizer: eu estou deputado estadual, estou político, e gosto muito. Dou os dois expedientes, é um escândalo na Assembleia, vou de manhã e de tarde, saio de lá depois das sete horas da noite.
Tem alguma liderança, algum político com quem o senhor não dialogaria em 2012?
Não tem nenhum político com que eu diga: com esse eu não faço aliança. Porque todos nós temos defeitos. O prefeito tal, o vice-prefeito daquele canto tem uma qualidade que eu tenho. Então, vamos procurar as qualidades.
Como é a sua convivência com Gilson Moura, que teve um embate com seu grupo no âmbito municipal, na Assembléia Legislativa? O senhor conversa política com ele?
Eu me dou muito bem com ele. Mesmo antes de sermos colegas na Assembleia eu sempre me dei bem com ele. Não tenho nenhum problema e acho que nem ele comigo. Ele até me disse: “Olhe! Se você for candidato eu vou votar em você”.
Gilson?
Sim, Gilson.
Então, se o senhor for candidato ele abdica da candidatura dele?
Isso não significa que eu possa ganhar, vou ter que lutar para ser. Quem ganha eleição é candidato. Ele reúne apoios, mas é preciso que ele mereça credibilidade.
Qual a sua avaliação acerca do governo Rosalba Ciarlini?
Olha, pelo que ela tem dito, pelo que o governo tem divulgado, ela tem um osso duro de roer. Mas sempre tem as carnezinhas, uma pelezinha, dá pra tirar o tutano.
Tem jornalistas de anos de experiência que nunca de candidataram. O que leva o senhor a disputar tantos mandatos?
Você diz que tem jornalista que nunca disputou mandato. Também tem muito deputado que nunca foi jornalista. Temos aqui jornalistas que nunca se candidataram e vereadoras que nunca foram jornalistas, mas tem vocação para a política.
Qual a avaliação que o senhor faz do seu sucessor, Maurício Marques?
Quando passei o cargo para ele, eu passei a viver um outro mundo. Porque eu tenho uma condição. Eu viro a página, procurar criar um novo mundo para mim. É o que eu tenho feito. Passei a trabalhar como jornalista, a investir na minha candidatura a deputado estadual e agora na Assembleia Legislativa não estou acompanhando o dia-a-dia da prefeitura de Parnamirim.
Estranho, deputado. Nem como jornalista, o senhor está acompanhando a gestão?
Você (para Cefas carvalho) faz jornalismo aqui. Eu faço jornalismo na Tribuna do Norte três vezes por semana. Ele fala de menos, mas disse que vai falar de mais. Aí eu faço meu juízo. Daqui a três meses me convide novamente.
Como jornalista, de onde o senhor acha que a gente vê melhor os fatos? De dentro ou de fora?
De dentro é preciso digerir, você nunca fica bem. De fora, você fica muito livre, tem muitas opiniões para ouvir, muitas coisas para comparar. Eu vou prestar atenção a partir de agora.
E o livro Carta ao Humano vai ser lançado em Parnamirim?
No lançamento em Natal tinha tanta gente de Parnamirim que eu acho que não teria mais gente para comprar aqui. Aliás, sendo parnamirinense, eu tenho vontade de dar. Por mim eu não vendo, apenas dou os livros.
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