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Ismael Dumangue fala sobre a cultura (ou falta de) em Parnamirim


O espaço “No Alpendre do PN” dessa semana, recebeu a visita do músico compositor Ismael do Mangue. Na identidade, o nome é Ismael Alves, mas ele prefere ser chamado pelo primeiro nome. Nascido em São José de Mipibu, pai de dois filhos, Ismael mora em Parnamirim há 27 anos. Nas terras “Trampolim da Vitória”, Ismael desenvolve seu trabalho e espera que, um dia, o artista local seja reconhecido devidamente. Confira a entrevista concedida aos jornalistas Cefas Carvalho e Roberto Lucena:

Cefas Carvalho: Dizem que Parnamirim não tem identidade cultural. Qual sua opinião sobre esse tema?
Creio que tenha, mas é muito fragmentada. Cada povo que vem morar por aqui, traz seus costumes. Não tem mostrar isso. Há uma dificuldade. Lembro do Chico do Boi, coitado, que passou a vida tentando e não conseguir mostrar o que queria. Identidade teria, mas é faltou, do Poder Público, uma ajuda, uma força. Até para comprar roupas ele [Chico do Boi] recebia ajuda de empresários.

Roberto Lucena: Alguns artistas estão elogiando o trabalho atual da Fundação Parnamirim de Cultura. Qual a sua avaliação da gestão atual?
Na atual gestão, estou sendo beneficiado. Eu e mais alguns outros colegas. Agora, falta a turma se unir e procurar. Essa festa da padroeira, por exemplo, muitas pessoas estão indo ao palco que dificilmente, em outras gestões, não teria essa oportunidade. Para mim a avaliação é positiva. É lógico que poderia ter mais coisas, poderíamos ter uma Lei de Cultura, que não deu certo ainda. O Conselho de Cultura também não aconteceu. Ano passado houve uma movimentação muito grande na cultura.

RL: Mas se comparar com outras gestões...
Ah, nem se compara. Não dá para comparar. Ficou procurando, na gestão anterior, o espaço que tinha, e vejo que era muito pequeno.

CC: Há uma lenda que alguns artistas afirmam que o ex-prefeito Agnelo Alves gostava de obras, mas não de cultura. É verdade?
Com certeza. Isso não tem como negar. A verdade tem que ser dita.

CC: Você afirma que os artistas daqui não são unidos, diferentemente do que ocorre em outras cidades como Mossoró. Isso é um problema?
Não só os de Parnamirim, mas os de Natal também. Alguns chegam para mim e dizem: “Gosto do seu trabalho, mas não gosto da sonoridade do disco”. Eu não tive a oportunidade de produzir um disco com essa qualidade que exigem. Mas não vou jogar fora meu material nem deixá-lo guardado para as traças comerem o papel. Vou fazendo à medida do que posso.

CC: Para músicos, faltam espaços profissionais para se tocar?
Falta. Pelo tamanho da cidade, é pouco. Temos um auditório na Escola Augusto Severo, que é sempre cedido e o Espaço Nestor Lima, que está sendo bem utilizado. O que pega mais para os músicos é que não temos um local com a acústica adequada. O Espaço Nestor Lima já está com problema por causa do barulho. Os vizinhos já reclamaram.

RL: Mas de uma forma, o parnamirinense dispõe de algum espaço para conhecer a cultura e os movimentos existentes na cidade ou só existem eventos pontuais como a Festa da Padroeira e o Nas Asas da História?
Isso. Não existe um espaço. Não temos teatro, nem cinema. Temos espaço para se alimentar fisicamente, mas para alimentar a alma não existe.

RL: Mas há o anúncio da construção do Cine Teatro em breve. Qual a sua expectativa com essa obra?
Espero que, quando acontecer, a gente possa mostrar nosso trabalho. Temos que criar um vínculo das pessoas de Parnamirim com nós, artistas da cidade. O musico tem dois inimigos: um é ele mesmo, que ao invés de ver o que ele tem de positivo, procura as falhas para criticar; o outro inimigo é o público que pergunta de onde ele [o artista] é. Se for daqui, ele [o público] não quer nem ouvir.

CC: Como um cantor e compositor com obra própria lida com os pedidos de “toca Zé Ramalho”, “toca Geraldo Azevedo”?
Quando toco em bares, nem canto minhas músicas. Só toco quando as pessoas pedem. Mas quando estou no palco, não me peça para tocar outras músicas, pois não toco. No palco é meu trabalho. Porque vou tocar músicas dos outros se tenho meu trabalho autoral? No bar é uma coisa, no palco é outra.

RL: É possível viver, ou sobreviver, como músico em Parnamirim?
Eu consigo sobreviver porque tenho ajuda da minha esposa. Se fosse viver somente de música estava frito. Faço, às vezes, alguns jingles, apresentações em bares.

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