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Wober Jr: "A base aliada precisa de um consenso e de paciência. E de gente para ser bombeiro, pois tem outros querendo tocar fogo"


O entrevistado da semana na série "No alpendre do PN" é o deputado estadual Wober Júnior (PPS). Advogado, Wober começou a carreira política aos 23 anos, quando elegeu-se vereador em Natal, pela legenda do PMDB, cumprindo dois mandatos. Foi durante um longo período militante do Partido Comunista Brasileiro- PCB (hoje PPS). Passou pelo PMDB e hoje integra os quadros do PPS. Confira a entrevista concedida aos jornalistas Cefas Carvalho e Roberto Lucena:
Cefas Carvalho: Como o senhor está vendo as movimentações políticas para 2010? Tantos nomes e nenhuma definição até agora?
A natureza da política enseja essas contradições e provoca também uma demanda de vontade, desejos e aspirações que são todas legítimas de qualquer processo: seja na construção do candidato do governo ou da oposição. A política tem suas próprias leis e se rege por si só fundada nessas idéias. Do ponto de vista da base do governo, que eu faço parte, luto pela sua unidade, pela construção de um consenso. Não temos um candidato definido, portanto, ele não tem a capacidade, com o apoio de todos, de crescer na candidatura. Enquanto que na oposição você tem uma candidatura praticamente consolidada, que é da senadora Rosalba Ciarlini. Corre o risco, se as forças lideradas pela governadora Wilma não estiverem unidas em 2010, de ter uma derrota fragorosa.
CC: O senhor acha que a demora na definição do nome prejudica?
Não há demora. Você não pode fazer uma coisa precipitado. A conduta do presidente Lula é diferente da governadora Wilma. Lula impôs uma candidata ao partido. Não teve condições nem de ouvir as aspirações dos outros postulantes. Impôs a candidata e acabou: é Dilma. Sem tradição no PT, ela era do PDT e nunca disputou sequer uma eleição. O Brasil vai correr dois riscos: primeiro, uma candidata que nunca disputou eleição, portanto não tem experiência político-eleitoral; segundo, de uma candidata que perde a credibilidade a cada ação que ela provoca no desenvolvimento das suas atividades. Aqui, no RN, é diferente. Você tem um conjunto de forças que está dividida porque tem vários candidatos: João Maia quer ser candidato e tem condições de ser um grande governador; Iberê Ferreira quer ser candidato, é o vice-governador, vai ser o governador, faz um belíssimo trabalho na Secretaria de Recursos Hídricos; Robinson Faria tem uma história política honrada; Carlos Eduardo foi prefeito de Natal e vive uma contradição dentro do seu partido, pois uma parte diz que é oposição a Wilma e outra diz que é governo. O governo não pode dizer: "tem que ser esse o candidato". Tem que construir um consenso e o consenso demanda paciência, estratégia, tática, capacidade de união. Precisa de muita gente para ser bombeiro, quando agora temos muita gente querendo tocar fogo. Creio que até dezembro a gente tem que ter um candidato.
Roberto Lucena: E qual seria o papel e importância da Unidade Potiguar nesse contexto? É bombeiro ou toca-fogo?
A Unidade Potiguar é uma excelente forma de fazer política. Quatro partidos da base aliada se reuniram, reafirmando apoio ao governo de Wilma, e dizendo que quer construir esse consenso. Isso é bom. É bom se o governo tiver a capacidade de entender dessa forma. Se o governo começar a tratar a Unidade Potiguar como adversária, aí a coisa pode se desestruturar e os partidos podem buscar outros caminhos. Eu acho que foi bom e até natural porque eles estão propondo uma conversa coletiva.
RL: O seu partido foi procurado para fazer parte dessa aliança?
Foi. O deputado Henrique falou comigo, o presidente da Assembléia também falou comigo insinuando um convite, não um convite concretamente. O PPS tem uma postura de construção da unidade e de elaborar um projeto que seja continuista e mudancista. É uma afirmação dialética. Continuista no que Wilma fez de bom, por exemplo, o desenvolvimento da matriz energética do RN, o salto qualitativo no governo Wilma, o projeto de reconstrução de estradas que uma parte delas foram demolidas devido às chuvas, mas que já foi liberado os recursos para serem reconstruídas. Isso tem que continuar. Mudancista porque a sociedade muda. A sociedade exige mais ações do governo e apresenta outras demandas. Por exemplo, no campo do desenvolvimento tecnológico. Aí entra essa luta do digital contra o analógico, do passado contra o futuro. O RN começar a pensar em deixar de ser produtor de comodites, produtor agrário, exportador primário para ser um estado que tem vocação para o turismo, que é serviço e desenvolve muito no mundo, mas que tem recursos para desenvolver tecnologia: tecnologia do camarão para agregar valor; na energia eólica pode produzir dutos e geradores de energia eólica em consórcio com a Alemanha; pode fazer parcerias com universidades no campo cientifico para saber como a gente vai utilizar, por exemplo, o poder da internet.
CC: O senhor apóia a candidatura de José Serra, no entanto apóia também o governo Wilma, que é aliada a Lula. Como será o palanque de 2010? O senhor irá subir em dois palanques? Como fica essa contradição?
Não há nenhuma contradição. O RN não é igual a São Paulo. São Paulo não é igual ao RS. O RS não é igual ao Amazonas. Tem gente com entendimento diferenciado disso: uns bem intencionados, outros com malcaratismo, vendendo a alma, fazendo intriga, fofoca, e isso faz parte também do jogo democrático. O que existe de mais salutar na democracia é a diversidade. O que derrotou, por exemplo, a verticalização, foi o respeito à adversidade. Como é que em São Paulo o PPS vai ter os mesmos aliados do RN? Pode ter e pode não ter. Porque essas relações são institucionais, são partidárias e são da cultura local. Chaplin, que no começo do século XX pensou melhor do que muito bocó daqui do RN, disse que a vida é um fato local. E isso interfere muito. Do ponto de vista da unidade política nacional, os partidos têm liberdade de fazerem suas opções. O PPS é claro, é definido: vai apoiar o candidato do PSDB, seja Serra ou Aécio. Wilma defende a candidatura de Lula, mas o partido dela pode ter Ciro Gomes como candidato a presidente. E aí? Você já viu alguém cobrando de Wilma, se Ciro for candidato ela vai querer o apoio de Rosalba ou não vai? O de Wober? O do PPS? Não existe isso porque há essa relação local. Do ponto de vista nacional, não. Há a possibilidade de eu não estar no palanque de Wilma se acontecer o seguinte: os partidos da base disserem que não aceitam os partidos que apóiem Serra. Aí, nós estamos fora. Porque não fazemos política com vínculos fisiológicos, nós participamos do governo porque colaboramos na sua eleição e a governadora Wilma tem prestigiado o PPS, mas nós não somos reféns dessas indicações.

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