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Entrevista com Eduardo Gosson, presidente da UBE-RN: "No Brasil, um livro deveria custar o mesmo que um pão”

Poeta, Eduardo Gosson é servidor do Tribunal de Justiça do RN e presidente da seção RN da UBE - União Brasileira de Escritores. Militante cultural, organizador de saraus e eventos literários, Eduardo esteve no Alpendre do PN, na redação do jornal Potiguar Notícias, onde conversou com os jornalistas José Pinto Jr., Cefas Carvalho e Andressa Vieira sobre literatura, mercado literário, UBE e Internet. Confira:

Qual a sua avaliação da Semana do Escritor que, na sua gestão, foi feita três vezes?
Na UBE a gente parte daquela premissa de Ariano Suassuna, que eu trabalho com vários cenários da cultura. Com algum dinheiro, nenhum dinheiro, mas com muito dinheiro nunca tive a felicidade de trabalhar. A UBE vive exclusivamente da anuidade que os seus associados pagam, mas isso nos garante independência para a gente dizer o que pensa.
A UBE é uma entidade história, pois se você olhar os dezenove intelectuais que a fundaram, você encontra Donivaldo Monte, você encontra Zila Mamede, Luís Carlos Guimarães e depois ela teve um período sem funcionar e depois outro grupo, Lívio Oliveira, eu, Manoel Onofre, a gente começou a reorganizar, sabendo que organizar artistas intelectuais não é uma tarefa fácil por causa da diversidade. É bom que o intelectual seja rebelde, se não ele não estaria cumprindo o papel de intelectual.
Existem vários tipos de intelectuais, aquele filósofo italiano Antonio Gramsci tem um estudo muito interessante: “Os intelectuais e a organização da cultura”, onde ele vai definindo os tipos de intelectuais, intelectual orgânico, intelectual revolucionário, e a UBE teve os primeiros passos na presidência do companheiro Lívio Oliveira, depois por motivos particulares ele não pôde continuar. E nós assumimos. A UBE tem uma característica bem diferente em relação às outras entidades porque ela se coloca como uma entidade de defesa do escritor e também é democrática. Ela tem um estatuto, ela tem uma presidência que dura dois anos, com direito a reeleição. Então, eu pretendo, se a saúde me permitir, concorrer a reeleição.

Deverá ser consenso?
Quase, talvez, ninguém sabe. Depende muito do universo de intelectuais que é uma coisa muito difícil de administrar. E toda entidade precisa nas fases iniciais de pulso forte. Se você for olhar, por exemplo, o Tribunal de Justiça, Teotônio Freire foi durante quase treze anos presidente do Tribunal.
Foi o que demorou mais tempo na presidência. Mas porque naquele tempo o Tribunal estava surgindo e não tinha uma regulamentação; depois veio com Sebastião Fernandes. Ele fez a resolução que foi aprovada em Plenária, em que cada um passaria um ano. Depois da década de 70, mudou para dois anos.
Então, os primeiros sempre demoram mais. Mas a gente não pretende se eternizar nas entidades. A gente quer passar a outros, porque a entendemos que a diretoria da UBE é de alta voltagem. Bem eclética, tem pessoas de várias tendências e com muita capacidade para conduzir os destinos da entidade.

Como anda o projeto da Nave da Palavra?
A Nave da Palavra é uma idéia que foi transformada em resolução no site da entidade de se criar a editora. A gente agora está começando a parte burocrática, porque a gente quer fazer tudo direitinho, livro com ISBN, com as normas que têm que ter e isso é uma burocracia terrível.
Na biblioteca nacional a gente, por exemplo, tem que registrar em cartório a eleição da diretoria. E a gente acredita que, no máximo, em dois meses, a UBE vai começar a editar. Tem um conselho editorial, todo o material é mandado para o conselho, porque lá a gente trabalha em colegiado. Tem um grupo que toma conta do site, tem outro grupo tomando conta do jornal O Galo.

Está previsto para quando, o ressurgimento de O Galo?
O projeto foi aprovado na lei Djalma Maranhão e a gente tá no trabalho mais difícil, que é captação de recursos. Nós estamos evitando os empresários. O Galo vai ficar uma edição muito bonita, bimestral, com 32 páginas. O editor é Nelson Patriota e fazem parte do conselho d’O Galo Francisco Alves, Ana Maria Cascudo e Dr. Carlos Gomes. Da editora fazemos parte eu, Jônia de Souza, Aluísio Matias e Jurandi Navarro. São bem ecléticas as atividades.

Fala-se muito que editar livro no Rio Grande do Norte é deficitário porque não há um mercado consumidor. Só se vende no lançamento, depois o livro encalha. Como se pode fazer o potiguar ler mais, principalmente as próximas gerações, autores norte rio-grandenses?
Esse quadro está começando a mudar. No ano passado nós fizemos um debate e a dona da livraria mostrou estatisticamente uma evolução muito grande de leitura e de autores do Rio Grande do Norte, uma coisa que impressiona. A grande dificuldade da leitura hoje é, primeiro, o custo. Antigamente tinha o Instituto Nacional do Livro, que barateava os custos dos livros. Agora, há um movimento para recriar os Institutos Estaduais. Então, você vê que essa imagem do leitor está começando a mudar. Agora o grande problema no Rio Grande do Norte e no Brasil é o problema da distribuição, porque no livro, se você não tiver uma boa distribuição, fica difícil.
E não é função do autor ser camelô. Algumas pessoas conseguem porque trazem em si a habilidade para o comércio. Eu entendo que a maioria dos escritores não têm esse tino comercial e nem é função. A função do escritor é escrever. A parte de venda, essas coisas, cuida quem entende de marketing, de tudo.

É impressão ou no Rio Grande do Norte, na atualidade, existe uma boa safra de bons escritores?
O estado do Rio Grande do Norte tem essa particularidade. Na área da poesia, tem muitos poetas. Quando você vai olhar, tem muita coisa boa. É claro que, com o advento do computador, “todo mundo é escritor”. Você faz uma dissertação de mestrado e transforma em um livro. Mas é assim mesmo, começa pela quantidade e o tempo e o mercado vão selecionando. A edição de livros na Nave da Palavra, a gente vai trabalhar com três critérios: o primeiro é a coedição, a UBE e o autor dividindo meio a meio.
A segunda possibilidade é a UBE publicar o livro sozinha, mas aí vai depender se ele for um livro relevante, do parecer do conselho editorial. E, por último, e essa é uma idéia minha, a gente pegar doze livros essenciais para se conhecer o Rio Grande do Norte e fazer um projeto e jogar nas leis. Aí você reduz os custos. Eu advogo sempre: o preço do livro deveria ser o preço de um litro de leite, o preço do pão. O povo às vezes pergunta: por que o povo russo é um povo culto? Porque na antiga URSS, na Rússia, particularmente, as tiragens eram 3 milhões. Dostoiévski tirava 3 milhões de exemplares.
O livro ele tinha capa boa e dentro era papel jornal. Aquilo era vendido como se fosse 3 reais, 4 reais. E a outra coisa é que todo programa que você fizer na área de cultura, tem que fazer interligado com a educação, o que é difícil. Aqui, agora que se estão dando os primeiros passos. Tem uma ONG de Cláudia Santa Rosa que faz um trabalho muito bonito na área da leitura nas escolas. Então, a gente tem que unir isso com a educação.
E é quase incompreensível para quem gosta de ler essa separação entre a sala de aula e os escritores. As salas de aula deveriam ter os nomes dos escritores.
A gente está articulando uma audiência com a governadora e com a secretária de Cultura, Isaura Rosado, e a UBE tem algumas sugestões para fazer ao poder público nessa área da literatura, por exemplo, nessa reunião que a gente está articulando a gente quer envolver a Universidade Estadual, o Conselho Estadual de Cultura, esses órgãos que lidam com livros. E a gente quer fazer uma parceria com a UERN para elas formarem professores de Letras com especialização com o título Do Ofício de Escrever e aí você vai descobrindo novos escritores no universo escolar. E os melhores trabalhos serão publicados pela editora Nave da Palavra com o título Novos Escritores.

Muitas pessoas não lêem mais livros, pois preferem pôr os livros dentro de um equipamento eletrônico onde cabem cem livros. O senhor acha que a solução para que o livro continue vivo seria o barateamento?


Com certeza. E a gente não pode deixar a tecnologia de um lado e o livro do outro. A gente tem que unir. Recentemente, recebi um e-mail dizendo que existe uma biblioteca virtual em determinado site, uma biblioteca da humanidade. Uma biblioteca de Alexandria. Então, é uma beleza você tem, por exemplo, toda a obra de Machado de Assis dentro desses novos esquemas. Mas o prazer da leitura é em uma rede. Por exemplo, eu li Os Lusíadas lá em um rede em Pipa, há quinze anos atrás, olhando para o mar. Quando Pipa não tinha turismo, quando Pipa não tinha invasão de traficantes de drogas; quando Pipa era uma coisa pura. Eu li A Divina Comédia no quintal da minha casa, debaixo de um pé de coqueiro. E foi um prazer imenso!

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