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Uma tarde em Ponta Negra (com crianças, tranquilidade, preços baixos e educação...)


Cefas Carvalho

Sentindo aquela vontade quase compulsiva de escrever – um misto de coceira nos dedos e inquietação na alma – hesitei entre dar continuidade a idéias de contos, ou uma crônica sobre o agradável início de noite do sábado no São João do Bardallos, entre cervejas e pipoca, na companhia dos filhos Pedro e Ananda e do casal de jornalistas Rafael Duarte e Ana Paula (depois a mesa seria acrescida do também jornalista Sérgio Vilar e sua namorada Pammela).
Contudo, a vontade mesmo de escrever acabou sendo sobre Ponta Negra. Foi lá que, com os filhotes, passei parte do sábado, antes do jogo do Brasil contra os EUA. O ímpeto de escrever sobre a praia foi para ir na contramão dos demais escrevinhadores sobre o tema. Quem espera um relato indignado sobre prostituição, desrespeito, preços abusivos, pode migrar para outro blog. O fato é que o natalense criou um mito sobre Ponta Negra que o afastou da praia. Uma pena. Em muitos aspectos, ainda vale a pena curtir as imediações do Morro do Careca.
Antes que venha a grita geral, deixo bem claro: falo de minhas impressões pessoais e dos fatos que comigo aconteceram. Nada de tratados sociológicos ou de "emprenhar pelo ouvido", como diz o amigo poeta Plinio Sanderson. Falarei de mim e do que experimentei. E só.
Chegamos os três à praia por volta das dez da matina – horário politicamente incorreto para levar crianças à praia, sei, mas, ótimo para beber cerveja (eu) e curtir body boarding (eles) – e caminhamos pelo calçadão. Pouca gente, casais fazendo Cooper, alguns estrangeiros. Gente comum na praia. Instalamos-nos na barra K-2, que assim como umas outras três ou quatro, não cobram pela mesa, só o consumo. A cerveja? Três e cinqüenta a Skol gelada, preço de mercado. O atendimento? Uma beleza. A cargo de um senhor, seu Antônio, salvo engano e dois rapazes que devem ser seus filhos e sobrinhos.
Nas mesas próximas, um casal na faixa de 60 anos, uns jovens provavelmente moradores de Ponta Negra, uma turma jogando futebol na areia, um casal jogando frescobol mais à frente. Um trio de estrangeiros numa mesa próxima. Não olhavam as mulheres que passavam com malícia, não gritavam, não eram inconvenientes. Bebiam, riam e comiam peixe.
E assim passaram as horas, com o fato curioso que de quando em quando passava um vendedor de DVDs e CDs de Michael Jackson (passei a tarde ouvindo “Bille Jean” e “Beat it”). Chegada a hora de ir, caminhamos pelo lado dos restaurantes. Muitos estrangeiros, alguns natalenses, casais, gringos com filhos e famílias. Prostituição? Drogas? Gente inconveniente? Nem sombra.
Sempre suspeito de quem radicaliza que tal lugar é “assim ou assado” e ponto final. Defendo a tese de que quem procura, acha. Se o casal for a Paris para curtir romance e gastronomia, voltará com ótima impressão da cidade. Se for a paris atrás de prostituição e drogas, achará, e facinho, em Pigalle e Rue de Clichy. Idem para Rio de Janeiro, São Paulo, Londres, o escambau. Pipa? Já fui lá duas vezes com filhos e sempre foi tranqüilo e agradável.
Certo, vai haver quem diga que a noite em Ponta Negra é uma sucursal da Babilônia. Outros defenderão que a tranqüilidade foi pura sorte. Talvez. A esses, recomendo um passeio familiar a noite na Avenida Atlântica, no Rio de Janeiro. Ou uma tour pela Rua Augusta, em São Paulo. E, na civilizada e urbana Londres, arriscar um pulinho no bairro do Soho. Mundo barra-pesada tem em todo lugar. Só não vale achar que Ponta Negra às duas da tarde é o fim do mundo.

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