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De trotes para a Samu e do processo contra Marcelo D2

Cefas Carvalho

Este blogueiro passou da fase de se surpreender ou se chocar com qualquer coisa após tantos anos assistindo a filmes de Pasolini e Fassbinder, lendo sobre serial killers e acompanhando as novas sobre castelos nababescos de deputados. Mas, duas notícias recentes conseguiram mexer comigo, internamente. Uma diz respeito à reportagem que vi numa emissora local sobre o imenso número de trotes recebidos pelo Samu. O coordenador do serviço reclamou que com os trotes e a impossibilidade de averiguar a veracidade das informações com rapidez, todos os dias unidades da Samu se dirigem sem qualquer necessidade a vários locais da Grande Natal. Uma perda de tempo, trabalho e combustível, tudo com o dinheiro público. Sem falar que vidas – em acidentes reais – podem ser perdidas porque uma unidade do Samu foi atender a um acidente fictício, graças a um trote. Fica a pergunta que me corrói a alma: que tipo de gente passa um trote para um serviço emergencial de Saúde? Não venham me dizer que quem os passa são marginais, assassinos, estupradores, estes estão certamente ocupados com crimes de hierarquia mais elevada, ou presos ou tentando não sê-lo. Restam então as pessoas que são chamadas “de bem”. Talvez adolescentes entediados, moçoilas desgostosas com a vida, turminhas que querem se divertir fazendo mal a outrem. O fato é que a irresponsabilidade de quem passa um trote para a Samu pode resultar em mal para sua própria família e amigos. Já imaginou a ironia de alguém passar um trote, a Samu ir a um lugar onde nada aconteceu e, por isso, chegar atrasada ao lugar onde um real acidente foi registrado e neste acidente, agonizando, está o pai ou o irmão do sujeito que passou o trote?
Outra notícia que me chamou a atenção foi que o Supremo Tribunal de Justiça rejeitou o recurso do cantor Marcelo D2, que foi processado por "ter exposto seu filho menor de idade à apologia ao uso de drogas" durante um show em 2004. Na época, o filho do cantor, Stephan, tinha 12 anos e participou de uma apresentação do pai no festival de hip hop Manifesta, onde era proibida e entrada de menores de 18 anos.
Com isso, D2 foi condenado a pagar 20 salários mínimos --o equivalente a R$ 9.300-- por proferir expressões relacionadas ao consumo de drogas ("bagulho" e "queimando tudo até a última ponta") logo após seu filho ter deixado o palco, segundo o STJ. Pelo que consta, o rapaz vive bem com o pai e começou a trabalhar. Diferentemente dos filhinhos de deputados, juízes e mega-empresários, que ou ganham mandatos de presente para namorar pseudo-celebridades ou atacam índios, mendigos e prostitutas nas ruas, “só para zoar”. Em Natal, existem casos em profusão de playboys supostamente bem criados que vivem no tripé drogas-sexo-confusão, e nenhum tribunal ousa processar seus pais, por mais que façam vandalismo em Pipa, Pirangi, Jacumã e praias similares. Enquanto Marcelo D2 curte o filho e responde ao processo vendo a caranvana passar, ladram os magistrados e os “pais responsáveis” dos playboys. C´est La vie!

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