Na última quarta-feira, dia 2, o vereador em Natal pelo PCdoB, George Luiz Rocha da Câmara, foi o convidado do espaço “No Alpendre do PN”, do jornal Potiguar Notícias. Com 49 anos, George é advogado, técnico em Mineração, funcionário da Petrobras e diretor licenciado do Sindicato dos Petroleiros do RN, Confira entrevista concedida aos jornalistas Cefas Carvalho, Pinto Júnior e Roberto Lucena:
Cefas Carvalho: Qual sua avaliação sobre o quadro das eleições 2010? O PCdoB enxerga esse quadro para 2010 dentro de um contexto em que o definidor será o contexto nacional. Nossa formulação é a continuidade desse ciclo progressista no país, inaugurado em 2002 com a eleição de Lula, confirmado em 2006 com sua reeleição. Esse ciclo interrompe a implementação de um projeto muito nocivo ao país que é o neoliberalismo. Com o potencial que tem o Brasil, o novo projeto de desenvolvimento é um desafio. Então, dentro desse contexto, como os estados, não meramente como sucursais, vão interagir nesse processo? Esse ciclo, aqui no RN, passa por nós encontrarmos na base aliada, um projeto que possa somar e polarizar o povo potiguar dentro desse grande navio que é o contexto nacional.
Pinto Júnior: Mas essa não é uma questão mais de teoria do que prática? Dos nomes apresentados não há projetos de debate, são projetos personalistas.Acho que isso é ruim para a esquerda. Do nosso ponto de vista, o que poderia estar polarizando esse processo são as bandeiras de luta. Precisamos fazer as reformas estruturais que precisam ser feitas: reforma política, tributária e educacional. Temos quase 12% de analfabetos. Cuba combateu esse problema em 1962. Em 2005, Venezuela erradicou o analfabetismo. Em 2009, a Bolívia, o país mais atrasado da América Latina, não tem mais analfabeto. E o Brasil com esse número ainda? Vejo como é preciso o país ir para outro patamar.
CC: Essas são bandeiras não muito populares.Pois é. Mas é preciso colocar os projetos para saber quais são as bandeiras em sintonia com o povo. Como é que você coloca a reforma tributária? Será que as pessoas sabem que quem ganha R$ 1.500,00, paga imposto? Conversei com um gerente de banco semana passada e ele me disse que, quando foi gerente de certa agência, descobriu que o maior empresário do RN pagava menos imposto que ele. Essa situação perdura. Será que as pessoas sabem disso? Será que o indivíduo que tem oito filhos e ganha R$ 2 mil, paga imposto de renda?
PJ: Como o PCdoB está atuando para definir o projeto e o nome para 2010?Conversando com seus aliados, que no RN são PT e PSB. A governadora Wilma tem um papel destacado nesse processo, pois é a dirigente desse processo. Esperamos que o PSB ofereça uma proposta que venha galvanizar esse segmento. Com a entrada do PMDB, nesse contexto nacional de continuidade do governo Lula, acho que joga um ingrediente que no nosso estado, diferente do que foi em 2008 onde em cada município havia um palanque diferente. Qual o rumo vamos tomar? Vai ficar claro a polarização: DEM e PSDB de um lado e PMDB, PT, PSB e PCdoB do outro? Vai conseguir, nessa formatação, manter na aliança PR e PMN? É um debate a se fazer. Isso não está respondido. Os fatos de agora começam a precipitar uma definição mais cedo para não acontecer o que aconteceu em 2008. Esse desafio está posto e o PCdoB não está esperando pelos outros. Está traçando o seu projeto: vamos lançar uma nominata própria, que pela lei pudemos ter 36 nomes. E é esse o nosso projeto: oferecer ao povo potiguar uma alternativa realmente concreta para ocupar uma vaga na Assembléia Legislativa.
Roberto Lucena: O senhor tem interesse em ser candidato a deputado estadual?No PCdoB subordinamos essa questão ao interesse do partido. Se para o PCdoB o papel que eu melhor contribua seja ser candidato a deputado estadual, estaremos. Se for federal, senador, governador, vice ou cabo eleitoral, o que melhor se adaptar ao projeto do PCdoB, topo.
RL: Mas pessoalmente o senhor tem essa intenção?O que for necessário. Muita gente tem levantado o nosso nome para estadual. Estamos prontos para qualquer que seja a tarefa que venha contribuir para nós ocuparmos uma cadeira na Assembléia. Estamos prontos para enfrentar como cabo eleitoral ou candidato.
CC: A Câmara de Natal, desde a Operação Impacto, vem sofrendo um processo de desgaste. Qual sua avaliação sobre aquela Casa?Tem duas câmaras em Natal. Tem a câmara que está com a renovação de dez nomes e é muito produtiva, sem entrar no mérito da qualidade das leis, mas há uma produção intensa de leis, audiências públicas, debates de temas importantes para a sociedade. Não há um vereador que se destaque, e sim um conjunto de vereadores com uma ação muito forte. Por outro lado tem outra câmara. Você ver a dificuldade para se aprovar o fim da reeleição. Nossa proposta, apresentada em março, foi votada quase no final de agosto. Tem uma câmara que é o novo, que não consegue se afirmar diante do velho. É uma Câmara que tem cinco vereadores na oposição e dezesseis na situação, muitas vezes impondo definições de projetos que vêm do Executivo sem um debate mais aprofundado. Então tem essas duas câmaras: uma que tenta se afirmar com uma coisa nova que faça o povo se orgulhar do seu Poder Legislativo e outra que se mantém patinando naquela velha questão de ser uma extensão do Poder Executivo, ser meramente homologatória. Tem essa briga do novo com o velho. No geral, acho que vai amadurecendo, porque a sociedade amadurece. Mas falta a sociedade pressionar mais para que possamos avançar.
RL: Ainda fazendo análise dos Poderes, qual a sua visão sobre o governo Micarla de Sousa?Eu acho que a prefeita está muito mais preocupada em desconstituir a liderança do prefeito Carlos Eduardo do que em governar. Ela não tem as rédeas do município. Setores conservadores são hegemônicos em seu governo. Acho que está bem coerente essa história de “Borboleta”, pois borboleta não tem rumo. Onde o vento soprar, ela vai. Infelizmente quem está soprando são os ventos conservadores. O DEM hoje é quem manda no município. Zé Agripino, sem prestígio em Natal, fica mandando por controle remoto. O DEM hoje planeja, executa, arreada e gasta. Quem está na Sempla? Na Semar? Quem está na Administração? Nas Obras? Tributação? Os setores conservadores, desgastados para enfrentar o voto popular, colocaram seu projeto como barriga de aluguel. Alugaram o Partido Verde.
CC: Como estudioso da questão da Região Metropolitana de Natal, como o senhor analisa a posição dos prefeitos e presidentes de câmaras nas outras cidades? Eles estão preocupados em solucionar problemas ou mais interessados em projetos políticos pessoais?Um país que tem esse contexto, no qual as Regiões não são entes, onde é ente somente o município, remete ao Estado a criação de Regiões Metropolitanas. No campo institucional não passou daí. As articulações que hoje temos, depende da vontade dos governantes. Tá na hora de os prefeitos darem as mãos e seguir em frente. Infelizmente, temos a cultura de que o prefeito bom é aquele que tira a fábrica do município vizinho e coloca no seu município. “Eu passei a perna em Macaíba, coloquei a fábrica em São Gonçalo” ou vice-versa. Esse é o bom prefeito? Aí quem ficou desempregado em Macaíba vai assaltar aonde? Aonde tiver dinheiro, para onde a fábrica foi. Não dá para a gente ser feliz sozinho. A experiência do aterro sanitário em Ceará-Mirim mostrou que é possível trabalhar em conjunto. A única cidade que tem porte de produção de lixo suficiente diariamente para construção de um aterro é Natal, mas é a única cidade do RN onde não tem lugar para colocar um aterro. A dor ensina a gemer. A nossa consciência metropolitana vai surgir dos problemas? Pode ser. A vida está exigindo essa consciência.
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